Folha de S. Paulo


EUA demoraram para defender direitos na Argentina, diz Obama

Sem a presença de representantes das associações de familiares de vítimas da ditadura argentina, os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da Argentina, Mauricio Macri, prestaram uma homenagem aos mortos e desaparecidos do período.

O ato foi no Parque da Memória, em Buenos Aires, no dia em que o golpe que instaurou o último regime ditatorial no país completa 40 anos. No local, há um monumento em memória às vítimas do terrorismo de Estado.

Obama disse ser consciente da polêmica que existe em torno das políticas americanas nesse período e afirmou que, à época, os EUA demoraram para defender os direitos humanos no país.

Acrescentou que seu país não "esteve à altura" dos valores que defende.

O mandatário ainda apresentou suas condolências aos familiares das vítimas, que se "recusaram a abandonar seus esforços na busca da verdade e da justiça".

"A determinação de vocês fez diferença."

O líder americano anunciou que se esforçará para fazer as pazes com esse passado levantando o sigilo de ainda mais documentos para esclarecer qual papel os EUA podem ter desempenhado em uma das ditaduras mais repressivas da região.

Milhares de documentos foram abertos em 2002, mas Obama disse que também tirará o status confidencial de arquivos militares e de inteligência pela primeira vez.

"Acredito que temos a responsabilidade de confrontar o passado com honestidade e transparência", afirmou.

O secretário argentino de Direitos Humanos, Claudio Avruj, acredita que o processo levará um ano e meio.

Obama também lembrou os americanos, como jornalistas e diplomatas, que trabalharam para reportar os atos de tortura mesmo após serem ameaçados.

Ele também destacou a atuação do ex-presidente Jimmy Carter, que comandou a Casa Branca entre 1977 e 1981 e que recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2002.

"[Carter] foi o presidente que entendeu que os direitos humanos são um elemento fundamental da política exterior."

Tanto o dirigente americano quanto o argentino pediram para que as violações de direitos humanos não se repitam "Nunca más", com Obama também pronunciando as palavras em espanhol.

Macri agradeceu seu homólogo por estar presente na data e afirmou que os argentinos devem "gritar nunca mais para a violência política e institucional".

A homenagem foi fechada, nem imprensa nem população puderam acompanhar o ato.

Havia preocupação em relação à atitude dos argentinos contrários a presença de Obama no dia de aniversário do golpe.

A coincidência da viagem com a data foi motivo de críticas no último mês entre partidos de direita e entidades de direitos humanos.

Essas organizações promoverão, nesta quinta (24), atos para marcar os 40 anos do golpe. A Praça de Maio, diante da Casa Rosada, será um dos principais locais das manifestações.

Para evitar incidentes, o presidente americano segue agora para Bariloche, onde terá uma tarde de lazer com a família. Ele volta no fim do dia para a capital argentina e viaja para Washington em seguida.


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