Folha de S. Paulo


Capital belga já vivia sob temores de novo ataque terrorista

A Bélgica está em estado de choque com a tragédia que deixou o país em luto e em alerta máximo contra o terrorismo. Há meses a população estava vivendo com o fôlego em suspenso, aprendendo a conviver com a possibilidade de um grande atentado.

Desde os atentados de Paris em novembro, a cidade, antes tranquila, passou a ter militares armados patrulhando as ruas, pontos turísticos, galerias comerciais, feiras livres e até estacionamentos.

Nos últimos quatro meses, a vida em Bruxelas seguiu seu ritmo, sem tensão palpável no ar, mas com uma certa inquietude. O humor belga tentou amenizar a situação no ano passado, quando as autoridades pediram que não se compartilhassem pelas redes sociais informações sobre a ação da polícia. Em resposta, a população postou imagens de gatos pedindo silêncio.

Recentemente, Donald Trump, pré-candidato republicano à Casa Branca, chamou Bruxelas de "hellhole", ("lugar dos infernos", em tradução livre) e irritou os belgas.

Em Molenbeek, bairro conhecido como "celeiro do terror na Europa", foram organizadas caminhadas para mostrar que o dia a dia na área era como em outros locais.

Bruxelas é uma das capitais mais cosmopolitas do mundo. De acordo com estatísticas citadas pela Organização Internacional para as Migrações, nada menos do que 62% da população da cidade nasceu em outro país.

RISCOS SOCIAIS

A maior comunidade estrangeira em Bruxelas é a de muçulmanos, que mora em bairros pobres como Molenbeek e Anderlecht e áreas socialmente mistas como Forest e Scharbeek. Por décadas, os políticos belgas não levaram a sério os riscos da falta de coesão social e fizeram muito pouco pela integração dessa população muçulmana.

A Grande Mesquita da capital belga, presente do rei Balduíno ao rei Faissal, da Arábia Saudita, na década de 60, também é apontada como disseminadora da versão salafista (fundamentalista) do islã desde 1979 ao menos.

UE NA MIRA

A Bélgica não tem a mesma dimensão da França na campanha contra o Estado Islâmico, mas a fragata de guerra belga Leopold I escoltou por meses o porta-avião francês Charles de Gaulle, no golfo Pérsico, de onde foram lançados ataques aéreos ao EI.

As operações antiterroristas dos últimos meses na Bélgica também ajudaram a fazer do país um inimigo e aumentaram o risco de ataque.

Além disso, a bomba no metrô Maalbeek, no centro de Bruxelas, expõe pela primeira vez a intenção de atingir a União Europeia. A estação fica a metros da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu, e centenas de funcionários dessas instituições passam todo dia por ela no horário em que a bomba explodiu.

Maalbeek é uma estação pequena, compacta, com saídas apertadas e que certamente foi escolhida pelos terroristas como um local que poderia fazer muitas vítimas.

Analistas não descartam nos atentados simultâneos o simbolismo de atacar a cidade-sede da UE, uma espécie de "coração da Europa".

Apesar de o bloco não estar militarmente envolvido na campanha contra o EI, vários de seus países estão em guerra contra o terror e participam de ações na Síria e no Iraque.

Outro dos objetivos prováveis do EI é desestabilizar as relações entre imigrantes e europeus. Como proporcionalmente Bruxelas acolhe uma grande população muçulmana, tornou-se um "alvo" ideal para esse intento.

É possível ainda que a captura de Salah Abdeslam, coautor dos atentados de Paris, na última sexta (18) em Molenbeek tenha precipitado as explosões desta terça em Bruxelas. A polícia trabalha com a hipótese de que elas já estivessem planejadas.

Radicalização europeia


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