Folha de S. Paulo


Presidente turco acusa União Europeia de hipocrisia na crise de refugiados

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acusou nesta sexta-feira (18) a União Europeia de hipocrisia sobre a questão dos refugiados, em um duro discurso feito em cadeia nacional.

"Num momento em que a Turquia abriga três milhões, aqueles que não conseguem achar espaço para alguns poucos refugiados e mantêm esses inocentes em condições vergonhosas no meio da Europa deveriam olhar para si mesmos", disse Erdogan.

As declarações ocorrem justamente no dia em que líderes da UE e o premiê turco, Ahmet Davutoglu, se reúnem em Bruxelas para fechar um acordo com o objetivo de reduzir o fluxo de refugiados no continente europeu.

A Turquia se compromete a recolher e a manter em seu território quem for pego fazendo a rota ilegal pelo mar Egeu, mas desde que o bloco europeu se comprometa a reassentar um refugiado sírio hoje na Turquia para cada um que for pego na travessia clandestina.

Presidência da Turquia/Kayhan Ozer/AFP
 handout picture taken and provided by the Turkish Prime Minister Press Office on March 18, 2016 shows Turkish President Recep Tayyip Erdogan as he waves to supporters a speech during the 101st anniversary of Battle of Canakkale at Canakkale 18 March stadium. Erdogan called on March 18 on European countries to stop supporting the outlawed Kurdistan Workers' Party (PKK), days after a bombing claimed by Kurdish rebels killed 35 people in Ankara. / AFP PHOTO / TURKISH PRESIDENCY PRESS OFFICE / KAYHAN OZER / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT
O presidente Erdogan acena a apoiadores em cerimônia dos 101 anos da batalha de Çanakkale

As críticas de Erdogan se devem às cobranças feitas pela UE para que Ancara garanta condições dignas aos refugiados que forem recolhidos.

O presidente turco, que em tese tem um cargo de chefe de Estado, mas na prática é quem dá as ordens no país, fez alusão em sua declaração aos cerca de 12 mil refugiados instalados precariamente no campo de Idomeni, na fronteira da Grécia com a Macedônia, onde aguardam que a passagem seja novamente liberada.

'CAMPO MINADO'

Erdogan também acusou a UE de dar apoio ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), organização rebelde considerada ilegal pela Turquia e apontada como responsável por vários atentados no país –o mais recente, que deixou 37 mortos no último domingo (13), em Ancara, foi reivindicado por um grupo próximo ao PKK.

"Apesar dessa clara realidade, países europeus não estão prestando atenção, como se estivessem dançando num campo minado".

Ele usou essa metáfora para alertar para o risco de a Europa sofrer com os mesmos atentados ocorridos recentemente na Turquia. "Você nunca sabe ao certo quando vai pisar numa mina. Mas está claro que isso é inevitável."

O presidente turco ficou especialmente irritado com o governo da Bélgica por não ter impedido que membros do PKK instalassem uma barraca em frente ao Conselho Europeu, em Bruxelas, durante a cúpula dos refugiados. "Sejam honestos. Isso significa render-se ao terror".

John Thys/AFP
Kurdish people hold Kurdistan Workers' Party flag and placards depicting Turkish leaders as they take part in a protest to call for an end of the Turkish State terror in Kurdistan, during the European Union summit in Brussels on March 18, 2016. Underscoring tension with Brussels, Turkish President Recep Tayyip Erdogan accused the Europeans of supporting the outlawed Kurdistan Workers' Party (PKK) days after a bombing in Ankara claimed by Kurdish rebels that killed 35 people. Many European Union states have expressed concerns about Ankara's human rights record, including its treatment of the Kurds and a crackdown on critics of the government. The United Nations and rights groups fear the deal could violate international law that forbids the mass deportation of refugees. / AFP PHOTO / JOHN THYS ORG XMIT: THY01
Com bandeira do PKK, curdos protestam em Bruxelas contra ataques da Turquia no Curdistão

Os líderes da União Europeia chegaram a um consenso na noite desta quinta-feira (17) sobre as propostas da Turquia para conter o fluxo de refugiados no continente. A posição do bloco será apresentada ao premiê turco, Ahmet Davutoglu, ao longo desta sexta-feira (18).


Endereço da página: