Folha de S. Paulo


Eleição estadual alemã testa política de Angela Merkel para refugiados

O primeiro teste para a política de refugiados da chanceler alemã, Angela Merkel, será neste domingo (13).

Mais de 12 milhões de pessoas (20% do eleitorado alemão) renovarão o Parlamento de três Estados, mas o país está mais preocupado em saber a votação dos partidos que contestam o modo como Merkel tem tratado o fluxo migratório para a Alemanha.

Em discurso de encerramento da campanha de sua CDU (União Democrata Cristã) neste sábado (12), em Baden-Württemberg, Merkel defendeu que em "algumas situações não há como fazer um longo debate de princípios", aludindo à decisão de abrir a fronteira : a milhares de sírios em setembro passado.

Mídia e analistas locais já apontam um vencedor da eleição: a legenda AfD (Alternativa para a Alemanha).

Criada em 2013 com uma plataforma contra o euro, a sigla populista de direita se concentra agora na defesa de uma "migração qualificada e com vontade de se integrar" e diz representar "cidadãos preocupados" com a questão.

ELEIÇÕES NA ALEMANHA - O que pensam os alemães sobre o número de refugiados (em %)

Segundo pesquisas, o discurso deverá funcionar. O pequeno partido ganhará bancada nos três Estados que vão às urnas: Baden-Württemberg, Renânia-Palatinado (ambos no sudoeste do país) e Saxônia-Anhalt (leste).

Em nenhum deles conseguirá formar governo (os Estados seguem o sistema parlamentarista, com a maior bancada ou coalizão fazendo o governador), mas o desempenho será expressivo para uma legenda com três anos.

O melhor resultado deve ser na Saxônia-Anhalt, onde o AfD beira 20% das preferências e pode se tornar a segunda maior bancada.

Não por acaso, o Estado, que pertencia à antiga Alemanha Oriental, é um dos que mais repudiam abrigar refugiados. Registrou quase 10% dos cerca de mil ataques contra esse grupo em todo o país em 2015, de agressões físicas a incêndios em albergues.

Na Saxônia-Anhalt também há forte presença do Pegida (Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente), movimento xenófobo com o qual o AfD evita ter relação, mas de cujos simpatizantes deverá receber apoio maciço nas urnas.

Para David Begrich, estudioso de grupos de direita na Saxônia-Anhalt, o crescimento do AfD tem clara relação com a questão dos refugiados, mas também com um "sentimento do cidadão comum de que os partidos tradicionais não resolvem os problemas". "O AfD sabe disso e explora esse discurso", disse à Folha.

Esse é o cenário em Baden-Württemberg, rico Estado industrial e terceiro mais populoso do país, onde a CDU estima perder até 10% dos votos em relação ao pleito anterior para o AfD. Seria a primeira vez que a CDU não teria a maior bancada no Estado.

SALDO PARA MERKEL

A forma como Merkel tem lidado com o 1,2 milhão de refugiados gera uma curiosa situação: políticos de oposição a apoiam; aliados a criticam.

O governador de Baden-Württemberg, Winfried Kretschmann, do Partido Verde, concorda com Merkel sobre a busca por uma política migratória com a UE.

Seu rival da CDU, Guido Wolf, tenta se dissociar da imagem da chanceler, mas deve sair derrotado. Vários membros da legenda de Merkel a atacam abertamente.

A chanceler, porém, mantém a popularidade em 54% e, segundo pesquisa divulgada nesta semana, 50% dos alemães lhe dariam novo mandato se a eleição fosse direta.

ELEIÇÕES NA ALEMANHA - Popularidade de Angela Merkel (em %)


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