Folha de S. Paulo


George Soros e progressistas bancarão mobilização de latinos contra Trump

O bilionário George Soros e outros doadores progressistas bancarão uma nova campanha de US$ 15 milhões (R$ 55 milhões) para mobilizar latinos e imigrantes e tentar canalizar a indignação despertada pela retórica de Donald Trump e dos demais pré-candidatos republicanos para transformá-la numa avalanche de votos para candidatos democratas em novembro.

Os estrategistas envolvidos disseram que as novas verbas representariam o maior valor já dedicado exclusivamente pelos democratas para atrair eleitores latinos e imigrantes.

A maior parte do dinheiro será gasta por meio de organizações do Colorado, da Flórida e de Nevada, Estados com crescentes populações latinas e asiáticas e que terão papel decisivo na corrida presidencial e na batalha pelo controle do Senado.

Daniel Marenco - 21.abr.2015/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 21-04-2015, 19h00: Retrato do mega investidor George Soros, no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Soros e um dos homens mais ricos do mundo e esta no Brasil para a inauguracao de filial do braco filantropico de seus fundos, a Open Society Foundation. (Foto: Daniel Marenco/Fohapress MERCADO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
O investidor húngaro-americano George Soros, no Rio de Janeiro, em 2015

O esforço, que será coordenado por um novo comitê de ação política, chamado "Immigrant Voters Win" (eleitores imigrantes ganham), será mais explicitamente político e partidário do que esforços semelhantes do passado, disseram os estrategistas.

O objetivo é não só levar às urnas latinos já interessados na eleição e que votarão em candidatos democratas mas também identificar e persuadir eleitores imigrantes indecisos. Os organizadores acreditam que poderão levar pelo menos 400 mil novos eleitores democratas às urnas.

"Estamos arregaçando as mangas", disse Cristóbal Alex, presidente do Latino Victory Project, uma das diversas organizações nacionais de defesa dos latinos que trabalharão com o novo comitê.

"Desde o primeiro dia ele nos atacou, nos chamou de estupradores e ladrões", disse Alex sobre Trump. "Podemos ver a construção de uma muralha gigantesca e a separação de milhões de famílias. O país está à beira do precipício".

FALTA DE ENTUSIASMO

O esforço vem em meio a sinais de uma falta de entusiasmo entre os democratas que preocupa alguns dos principais estrategistas do partido.

Enquanto os eleitores republicanos estão comparecendo em grande número às primárias, em muitos casos para votar em Trump, milhões de eleitores democratas se abstiveram de participar das primárias entre Hillary Clinton e o senador Bernie Sanders, de Vermont.

Os democratas precisam enfrentar a decepção persistente entre alguns latinos quanto ao presidente Barack Obama, que não conseguiu colocar em prática a reforma que prometeu nas leis de imigração e que deportou dois milhões de pessoas.

Ao mesmo tempo, os conservadores já estão investindo pesadamente para tentar conquistar os eleitores hispânicos de direita.

Um grupo chamado Libre Initiative, financiado pela rede política dos irmãos Koch, deve gastar mais de US$ 10 milhões (R$ 37 milhões) até novembro e já tem dezenas de organizadores de campo ativos em nove Estados.

As duas campanhas estão se desenrolando diante de uma virada demográfica que está reordenando a política presidencial dos Estados Unidos, gerando milhões de novos eleitores para o Partido Democrata e causando reação feroz da direita.

Eleitores brancos estão se unindo em torno das promessas de Trump de pôr fim à imigração ilegal, construir uma enorme muralha ao longo da fronteira com o México e expulsar os trabalhadores estrangeiros ilegais que estejam nos Estados Unidos.

Pessoas envolvidas com o novo projeto disseram que ele também é uma resposta a queixas já antigas dos organizadores políticos latinos de que os doadores progressistas –entre os quais os membros da Aliança Democrática, que Soros ajudou a organizar depois da reeleição de George W. Bush– têm sido sovinas no fornecimento de verbas.

Em eleições passadas, alguns dos grupos locais mais ativos na promoção do registro eleitoral e do comparecimento às urnas de latinos e imigrantes que votam em democratas não contavam com dinheiro suficiente para participar de maneira plena das chamadas "mesas" em que organizações trabalhistas, ambientais e defensoras do aborto coordenam estratégias nos Estados decisivos para a eleição.

"Um dos motivos para que tivéssemos comparecimento menor do que o possível é o fato de que nossa comunidade historicamente atrai pouca verba", disse Alex.

"As pessoas que desejam uma visão progressista para o país precisam acompanhar o esforço que a direita já faz. Agora estamos vendo o reconhecimento, por alguns doadores, da importância de nosso voto".

Em lugar de criar novas organizações, o novo esforço, no geral, fornecerá dinheiro e assistência técnica àquelas que já estão ativas nas comunidades latinas e de imigrantes.

O Center for Community Change Action (centro de ação para mudança comunitária), organização progressista sediada em Washington, desenvolverá um programa de campo, com grupos de ação local, e medirá seu desempenho.

Os organizadores esperam começar os trabalhos em maio, visitando casas e telefonando e enviando correspondência a 782 mil eleitores –em sua maioria latinos e asiáticos– no Colorado, em Nevada e na Flórida.

Começar nessa data permitirá que respondam à decisão da Suprema Corte, aguardada para junho, sobre ações executivas de Obama que protegeram milhões de imigrantes ilegais contra a deportação.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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