Folha de S. Paulo


Obama critica Cameron e Sarkozy por omissão na Líbia pós-Gaddafi

Em uma longa entrevista à revista americana "The Atlantic", divulgada na noite de quinta-feira (10), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, usou linguagem pouco diplomática para criticar o premiê britânico, David Cameron, e o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy por terem sido supostamente negligentes com a situação da Líbia após a queda do ditador Muammar Gaddafi, em 2011.

Obama afirma que Cameron deixou de se preocupar com o país após a intervenção militar liderada pela Otan (aliança militar do Ocidente), porque estava "distraído com uma série de outras coisas".

Marinha dos EUA - 19.mar.2011/AFP
navio militar dos EUA no Mediterrâneo dispara contra a Líbia. *** MANDATORY CREDIT TO US NAVY VISUAL NEWS SERVICE == In this image released by the US Navy Visual News Service March 19, 2011 shows the Arleigh Burke-class guided-missile destroyer USS Stout (DDG 55) launches a Tomahawk missile in support of Operation Odyssey Dawn on March 19, 2011 in Mediterranean Sea. This was one of approximately 110 cruise missiles fired from U.S. and British ships and submarines that targeted about 20 radar and anti-aircraft sites along Libya's Mediterranean coast. Joint Task Force Odyssey Dawn is the U.S. Africa Command task force established to provide operational and tactical command and control of U.S. military forces supporting the international response to the unrest in Libya and enforcement of United Nations Security Council Resolution (UNSCR) 1973. (U.S. Navy photo by Fire Controlman 2nd Class Nathan Pappas/Released) AFP PHOTO / US NAVY VISUAL NEWS SERVICE / Fire Controlman 2nd Class Nathan Pappas / HANDOUT RESTRICTED TO EDITORIAL USE - NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGN - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS
Navio militar dos EUA no Mediterrâneo dispara contra a Líbia

Sobre Sarkozy, disse que o ex-líder estava mais interessado em "alardear seu envolvimento na campanha de bombardeios aéreos, apesar de os responsáveis por acabar com as defesas aéreas e fornecer a infraestrutura termos sido nós".

Segundo o autor da entrevista, Jeffrey Goldberg, Obama classifica a Líbia diplomaticamente de "bagunça", mas, em privado, chama a situação de "shit show" (show de merdas, em tradução literal). "Quando reflito e me pergunto o que deu errado, vejo espaço para crítica, porque eu tinha mais fé em que os europeus, dada a proximidade com a Líbia, estariam mais envolvidos com a situação", diz Obama.

A franqueza do presidente americano teve repercussão. O jornal "The Independent" disse que Obama havia lançado "um ataque verbal sem precedentes" contra Cameron.

O "Guardian" destacou o trecho em que o líder americano diz ter avisado o premiê britânico que a "relação especial" entre os países estava em risco se o Reino Unido não se comprometesse a destinar 2% do PIB para defesa, como prevê a Otan.

O governo americano agiu rápido para atenuar as declarações. Nesta sexta (11), o embaixador os EUA no Reino Unido, Matthew Barzun, disse que "nossa relação é essencial, especial, o que é verdade ontem, hoje e amanhã".

O gabinete de Cameron também se esquivou da polêmica. "Concordamos com a declaração do presidente dos EUA de que a Líbia apresenta muitos desafios difíceis", disse um porta-voz. "Mas sair em auxílio de civis inocentes que estavam sendo torturados e mortos por seu líder foi o correto."

Sarkozy tampouco comentou a entrevista, mas o parlamentar Hervé Mariton, do partido do ex-presidente, disse que daria um espelho a Obama para ver que todos falharam na tarefa de pacificar a Líbia, hoje comandada por dois grupos políticos rivais, dos quais apenas um reconhecido internacionalmente.

Reprodução
The Independent
'Obama diz que Cameron permitiu que a Líbia virasse um 'show de horrores' ('shit show')', diz jornal

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