Folha de S. Paulo


China intensifica cerco à imprensa e tenta impor agenda positiva

Em visita a grandes veículos de comunicação ligados ao governo chinês e ao Partido Comunista, o presidente Xi Jinping defendeu a importância de eles seguirem a liderança do partido e priorizarem o noticiário "positivo".

Reagindo a essa visita, um empresário com milhões de seguidores na internet teve suas contas em redes sociais chinesas bloqueadas após questionar a postura acrítica da imprensa vinculada ao governo —quase toda no país.

Li Tao - 19.fev.2016/Xinhua
O presidente da China, Xi Jinping, faz visita à redação do jornal
O presidente da China, Xi Jinping, faz visita à redação do jornal "People's Daily"

Uma série veiculada na internet com personagens gays adolescentes sumiu das plataformas sem explicação.

Esses são alguns episódios que os chineses vivenciaram apenas no último mês, somando críticas ao governo Xi Jinping de pressão e cerco a manifestações de opinião.

"Sob a nova liderança, podemos dizer que houve uma mudança, com uma censura mais abrangente e renovado foco em valores ideológicos e ordem política na internet", afirma Maria Repnikova, pesquisador de políticas de mídia chinesas vinculada à Universidade da Pensilvânia.

Xi assumiu a Presidência em 2013. Desde então, se desenrolaram ações controversas, como a prisão de cerca de 200 advogados ligados a direitos humanos, em 2015, e a definição de obscuras regras para a publicação de conteúdo online por organizações estrangeiras, este ano.

Sophie Richardson, diretora do braço da Human Rights Watch para a China, critica o que vê como um "esforço sistemático de destruir a sociedade civil" no país. Ela avalia que há um nervosismo geral –da parte do presidente para garantir sua posição, e da parte do partido, para manter sua hegemonia, apesar do crescimento de desigualdades e da queda na economia–, que acaba levando a um veto do debate social.

VISITA E CRÍTICAS

No mês passado, um sorridente Xi foi recebido com aplausos em três importantes redações de veículos oficiais de comunicação do país.

Em meio a reações positivas dos jornais à visita de Xi, o empresário do setor imobiliário Ren Zhiqiang, com milhões de seguidores na internet, teve contas nas redes sociais bloqueadas depois de criticar a postura benevolente da imprensa estatal.

Para a pesquisadora Repnikova, o caso de Ren funciona como um recado para a autocensura dos usuários e de ativistas, especialmente aqueles que já estão sob observação por terem milhões de seguidores nas populares redes sociais chinesas.

A agência que regula a internet no país disse que Ren divulgava informações "ilegais". "O espaço virtual não é uma terra sem lei e não deve ser usado para divulgar informações ilegais por qualquer pessoa", disse Jiang Jun, porta-voz do órgão, à agência estatal de notícias Xinhua.

Richardson, da HRW, afirma que o presidente chinês surpreendeu por sua linha dura. "Não vou dizer que esperávamos que Xi fosse "um [Mahatma] Gandhi, mas nem o mais pessimista observador esperava que ele seria tão linha dura como se mostrou."

A reportagem não conseguiu contato com a embaixada da China no Brasil.


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