Folha de S. Paulo


Pré-candidatos americanos ignoram força das mulheres nas urnas

Uma mulher tem chance de ser candidata e se tornar a primeira "presidenta" do país mais poderoso do mundo.

As eleitoras desse país a apoiam, certo? Errado. Bem, entre eleitores mais liberais, como a candidata, ela sai na frente, certo? Errado. Isso porque ela nunca atuou em questões femininas e ninguém consegue associá-la à luta das mulheres por igualdade, certo? Errado.

Na atual eleição presidencial americana, não há resposta óbvia.

A ex-secretária de Estado Hillary Clinton divide as eleitoras, perde o apoio das mulheres mais jovens e mais progressistas para o oponente democrata Bernie Sanders e, não obstante, engajou-se na luta por direitos femininos como creches acessíveis desde o início da carreira.

Pesquisadores afirmam que não há democrata nem republicano que tenha mostrado entendimento preciso do eleitorado feminino, e o primeiro que o fizer pode começar a desenrolar o tapete vermelho na Casa Branca.

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Preferência das mulheres por candidato - Em %

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As mulheres são 53% de todas as pessoas aptas a votar para presidente neste ano.

As casadas e as mais velhas são, segundo analistas, mais previsíveis. Mas cada vez menos mulheres se casam, reflexo de uma independência social e financeira crescente. Eis a chave da equação.

As solteiras compõem 25% do atual eleitorado americano, e estão em ascensão. Boa parte delas respeita o direito ao aborto, mas, no país onde o voto é facultativo, não pararão suas vidas para votar por isso. Querem poder receber salários iguais aos dos homens, poder pagar por ensino superior sem contrair dívidas monstruosas e, se tiverem filhos, conciliar o trabalho com a vida pessoal.

Mas 31% das solteiras americanas ainda não se registraram para votar, de acordo com a organização Voter Participation Center.

FILÃO

As amigas Jordan Heiden e Nakia Swinton, estudantes de 21 anos, estavam inclinadas a votar em Sanders.

No dia seguinte à Superterça (1° de março), quando Hillary ganhou a maioria das prévias estaduais, resolveram ir a um comício em Nova York para ouvi-la. Em meio a algumas críticas e elogios ponderados, a certeza que as duas já tinham era que, se fosse necessário apoiar Hillary para derrotar o empresário republicano Donald Trump, o voto estava garantido.

"Se ele for presidente, vou embora", disse Heiden. "Parece que ele odeia muita gente." Swinton concordou. "Ele só luta por homens brancos."

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O VOTO FEMININO NA ELEIÇÃO - Virgínia como exemplo - prévias na Superterça (1º)

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Para Marjorie Omero, especialista democrata em sondagem eleitoral, Hillary desperdiçará a chance de atrair eleitoras jovens assim se ressaltar o simbolismo de sua eventual vitória em vez de ir direto ao ponto. "Faz mais sentido falar no que afeta a vida das mulheres", aponta.

"O que causa insônia nos eleitores é o que está acontecendo em suas vidas. Eles olham para as eleições e pensam 'quem vai lutar por mim?'. Não queremos votar em alguém pela natureza histórica de sua candidatura."
"Salário desigual é o que me mata!", diz Heiden.

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O VOTO FEMININO NA ELEIÇÃO - Virgínia como exemplo - prévias na Superterça (1º)

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Para Swinton, a questão racial está ligada à de gênero e ambas deveriam ser prioridade do próximo ou próxima presidente.

Os candidatos democratas têm atraído o voto feminino há décadas, por captarem o incômodo com a subrepresentação de minorias. Barack Obama ganhou o voto delas com mais de dez pontos de vantagem em 2008 e 2012.

"É fascinante observar as eleitoras democratas ainda pouco convencidas por Hillary", diz Kristen Anderson, analista republicana. Para ela, há um filão a descobrir.

"Há eleitoras profundamente preocupadas com impostos e gastos. De modo geral, os republicanos teriam propostas interessantes. Mas eles estão em contato com jovens mulheres que tentam estruturar sua família de forma diferente da de seus pais?"

As urnas dirão.


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