Folha de S. Paulo


Kirchneristas criticam Macri por data de visita de Obama à Argentina

A data da visita do presidente dos EUA, Barack Obama, à Argentina vem atraindo críticas contra o líder argentino, Mauricio Macri.

A visita, que ocorre após viagem de Obama a Cuba, coincidirá com o aniversário de 40 anos do golpe de Estado que retirou Isabelita Perón do poder, em 24 de março de 1976.

Na data, que é feriado nacional desde o governo de Néstor Kirchner (2003-2007), são realizadas manifestações em todo o país -a maioria organizada por movimentos de esquerda.

Juan Mabromata - 16.fev.2016/AFP
Presidente argentino, Mauricio Macri, fala com a imprensa na Casa Rosada na terça-feira (16)
Presidente argentino, Mauricio Macri, fala com a imprensa na Casa Rosada na terça-feira (16)

"Que linda será a marcha do dia 24 recordando a Obama que seu país foi cúmplice e responsável pela ditadura", escreveu no Twitter a escritora e política kirchnerista Gabriela Cerruti na quinta-feira (18), logo após o anúncio da viagem do dirigente americano.

A presidente das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, acusou Macri de convidar Obama para a visita para impedir a população de realizar a marcha.

"Ele [Obama] vem para ver se estão cumprindo as ordens que determinou", acrescentou a opositora, que recebeu grande apoio do governo de Cristina Kirchner (2007-2015).

Os movimentos kirchneristas já se preparam para organizar na data a maior mobilização dos últimos anos.

Após a mobilização da oposição, o embaixador dos Estados Unidos na Argentina, Noah Mamet, afirmou saber que a data é "muito especial" para os argentinos e disse que ela foi escolhida para que Obama pudesse realizar as visitas a Cuba e a Buenos Aires em apenas uma viagem.

"O governo dos Estados Unidos divide com a Argentina a defesa dos direitos humanos como princípio universal", afirmou ao jornal "Clarín".

Segundo a imprensa argentina, Macri também estuda realizar uma série de atividades no dia 24 para que os kirchneristas não se apropriem da data.

Está sob análise até mesmo a possibilidade de levar o presidente americano para conhecer o prédio da Esma (Escola de Mecânica Armada). O local foi o principal centro clandestino de detenção durante a ditadura.

Saul Loeb - 17.jan.20165/AFP
Presidente dos EUA, Barack Obama, durante discurso na Casa Branca em janeiro
Presidente dos EUA, Barack Obama, durante discurso na Casa Branca em janeiro

REUNIÃO MACRISTA

Na última segunda-feira (15), Macri esteve pela primeira vez na antiga sede da escola -que atualmente é o Espaço para a Memória e os Direitos Humanos- para uma reunião com ministros. A visita, porém, não repercutiu bem.

"Me estranha que Mauricio Macri faça uma reunião em um lugar tão especial depois de se negar a nos receber, disse Estela de Carlotto, presidente da associação Avós da Praça de Maio.

Em janeiro, Macri colocou seu chefe de gabinete, Marcos Peña, para conversar com Carlotto em uma audiência. Justificou dizendo que não tinha um horário livre em sua agenda para atendê-la pessoalmente.

Nesta sexta-feira (19), porém, o governo afirmou que o mandatário se encontrará com a presidente da associação na próxima semana, já como parte dos preparativos das atividade de 24 de março.

Entre os partidos de esquerda e os movimentos de direitos humanos, há a preocupação de que, durante o governo do novo presidente, de centro-direita, não se dê continuidade ao julgamento de agentes da ditadura.

Macri, no entanto, afirmou que isso não ocorrerá.


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