Folha de S. Paulo


Sucesso de debates na TV impõe maratona a pré-candidatos nos EUA

Audiências elevadas e a participação do empresário Donald Trump, ex-apresentador de reality show, fizeram dos debates de TV entre pré-candidatos presidenciais americanos negócio atraente para as emissoras e já mostram efeitos sobre as urnas.

Ao atrair um público que não costuma se envolver no debate político, Trump ajudou canais a baterem recordes de audiência e aumentarem receita com propaganda.

Os últimos debates tiveram média de 11 milhões de espectadores, ibope similar ao do debate final entre o presidente Barack Obama e o então candidato republicano, Mitt Romney, em 2012.

No início da atual campanha, porém, a audiência se superou.

O primeiro evento, da Fox News, em agosto de 2015, teve 24 milhões de espectadores –o recorde para esse tipo de programa na história da emissora. A CNN fez o debate seguinte, em setembro, e atraiu 23 milhões, igualmente um recorde para o canal.

A despedida do lendário apresentador de talk show David Letterman, para efeito de comparação, teve 13,7 milhões de espectadores.

Num padrão mantido, com variações, até agora, a rede CNBC, que realizaria o terceiro debate, vendeu espaço comercial de 30 segundos por valores entre US$ 200 mil e US$ 250 mil, 25% mais caros que os vendidos pela CNN e superiores aos US$ 50 mil cobrados pela própria emissora no horário, de acordo com o site "Business Insider".

"MOMENTO OOPS"

O interesse financeiro dos canais em promover debates impôs uma agenda puxada aos pré-candidatos que, se por um lado veem benefícios em se expor ao público, por outro têm de lidar com a fadiga ou o despreparo ao vivo.

Com o debate entre republicanos previsto para este sábado (13), terão sido nove desde agosto. Entre os democratas, foram sete.

O ritmo de campanha pesou para o senador republicano Marco Rubio, da Flórida, que após sair-se mal em um debate dias antes caiu da terceira posição na prévia de Iowa para a quinta em New Hampshire, oito dias depois.

Jim Watson/AFP
Pré-candidatos republicanos à Presidência dos EUA durante debate em Iowa, em janeiro
Pré-candidatos republicanos à Presidência dos EUA durante debate em Iowa, em janeiro

"Estou desapontado [com o resultado da primária], mas não com vocês [seus apoiadores], e sim comigo. Não fui bem [no debate] sábado à noite", reconheceu, finalizada a apuração, na terça-feira (9).

Durante o evento, ele foi criticado com insistência por supostamente repetir-se roboticamente pelo governador de Nova Jersey, Chris Christie, que já deixou a disputa.

Em 2011, uma pane do tipo minou a pré-candidatura republicana do ex-governador do Texas Rick Perry, que se atrapalhou ao enumerar três agências federais que eliminaria se eleito. Ele citou as duas primeiras, mas, na terceira, a memória falhou. "Não consigo. Desculpe. Oops." Dois meses depois, ele deixaria o pleito marcado como o candidato do "ops".

Naquela campanha, o ritmo era ainda mais intenso –houve 27 eventos até 3 de março, e apenas do lado republicano, já que Obama, tentando a reeleição, era o único democrata no páreo.

Mas a audiência era inferior. Em comparação com os 24 milhões da Fox News, o primeiro debate das primárias de 2011 foi visto por 3,2 milhões de pessoas.

"Os debates são ferramentas úteis para se conhecer um candidato, assim como para medir sua capacidade de lidar com a pressão", disse o professor Tim Groeling, da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).

"Foram importantes em 2012 e têm sido muito, muito importantes neste ciclo também."

A presença de Trump, que já comandou o reality show "O Aprendiz", diversificou e ampliou a audiência, ele notou. "Trump não tem um estilo político convencional, o que traz novidades."


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