Folha de S. Paulo


Oposição venezuelana apresenta plano para antecipar eleição presidencial

Um partido da coalizão opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática), que hoje controla a Assembleia Nacional da Venezuela, apresentou nesta terça-feira (2) um pré-projeto de emenda constitucional para abreviar o mandato do presidente Nicolás Maduro e convocar eleições no final do ano.

Após a morte de Hugo Chávez, em 2013, Maduro foi eleito por um período de seis anos.

Mas a oposição deixou claro que pretende usar todos os mecanismos institucionais ao alcance de sua maioria parlamentar para tirá-lo do poder o mais rápido possível para reerguer uma Venezuela mergulhada num desastre econômico e social.

O pré-projeto de emenda foi entregue à Secretaria do Parlamento (unicameral) por Andrés Velásquez, secretário-geral do partido Causa R, que tem três deputados na maioria opositora.

Federico Parra/AFP
 President Nicolas Maduro delivers a speech during celebrations for the 17 years of the Bolivarian Revolution in front of the Miraflores presidential palace, in Caracas on February 2, 2016. AFP PHOTO/FEDERICO PARRA ORG XMIT: FPZ1099
O presidente Nicolás Maduro discursa na comemoração dos 17 anos da Revolução Bolivariana

"A Venezuela vive uma crise extrema e irreversível, e quem nos levou a este abismo não só não dá nenhum sinal de retificação como persiste no erro. Por isso propomos à consideração do plenário uma espécie de vacina, que seria a aprovação de uma emenda constitucional", disse Velásquez.

A emenda pretende encurtar o mandato presidencial para um período de quatro anos com apenas uma reeleição possível, ao contrário do modelo atual, que não impõe limite a candidaturas do presidente em exercício.

Segundo Velásquez, a emenda também busca limitar a permanência de prefeitos e governadores (eleitos para períodos de quatro anos) a duas reeleições consecutivas. Hoje não há limites.

Já os magistrados teriam sua permanência encurtada dos atuais 12 para seis anos. Com isso, a Assembleia Nacional poderia substituir juízes que tiverem cumprido o prazo.

Para ser implementada, a emenda precisa ser transformada em projeto de lei, aprovada pela maioria dos deputados e submetida a consulta popular.

O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ, suprema corte), porém, poderá tentar bloquear a medida ao alegar que é inconstitucional.

Miguel Gutierrez/Efe
 Personas adeptas al gobierno nacional venezolano participan en una manifestación en las inmediaciones de la Asamblea Nacional hoy, martes 2 de febrero de 2016, en la ciudad de Caracas (Venezuela). Decenas de personas rechazan la propuesta hecha en la Asamblea Nacional sobre la Ley de Propiedad de la Gran Misión Vivienda Venezuela, aprobada en primera discusión la semana pasada. EFE/MIGUEL GUTIERREZ ORG XMIT: CAR01
Apoiadores do governo protestam contra proposta da Assembleia de mudança em programa de habitação

OUTRAS OPÇÕES

Além da emenda, a oposição dispõe de outros mecanismos para tentar derrubar Maduro.

Um deles é convocar uma Constituinte para refundar o Estado, mas a oposição só poderá fazê-lo caso recupere a supermaioria de dois terços do Parlamento, que foi colocada em xeque com a impugnação de três deputados eleitos pela MUD sob acusação de compra de votos.

Outra opção seria promover um referendo revogatório quando acabar a primeira metade do mandato presidencial –em abril, no caso.

Para organizá-lo, é preciso que 20% dos eleitores registrados (equivalente a 4 de milhões de venezuelanos) assinem em favor da proposta. Maduro será automaticamente destituído se o referendo for aprovado por número igual ou maior à votação obtida quando foi eleito, em 2013.

Se a destituição ocorrer até o início de 2017, novas eleições acontecem. Se for depois disso, quem assume até o fim do mandato é o vice-presidente.

Maduro promete resistir de todas as maneiras a tentativas de destituí-lo e acusa a oposição de querer aplicar um golpe de Estado disfarçado.


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