Folha de S. Paulo


EUA iniciam prévia com eleitores focados em segurança interna

Na América profunda, a segurança das fronteiras tira o sono de muita gente. É o caso de Debby Gebhardt, 58, fazendeira na pequena comunidade rural de Van Meter, no Estado de Iowa, Meio-Oeste dos EUA, onde começaram nesta segunda (1º) as prévias para a escolha dos candidatos que disputarão as eleições presidenciais de novembro.

"Não quero parecer racista, mas sou a favor de fechar as fronteiras para muçulmanos até que a situação no exterior fique mais clara. Temos que nos proteger", diz Debby, respaldando a polêmica proposta do empresário Donald Trump, líder da disputa republicana à Casa Branca.

Marcelo Ninio/Folhapress
Debby e Ronald Gebhardt, fazendeiros de Van Meter, Iowa, pretendem votar em Donald Trump
Debby e Ronald Gebhardt, fazendeiros de Van Meter, Iowa, pretendem votar em Donald Trump

Cercada de poucas casas e plantações de milho até onde a vista alcança, ela afirma não ter dúvidas sobre quem levará seu voto. "Gosto do Trump. Ele diz o que deve ser dito, sem medo."

A inquietação com os imigrantes ilegais e a segurança nacional é muito clara entre os eleitores de Iowa, o que em parte explica a popularidade de Trump e de outros candidatos republicanos que defendem medidas extremas, como o senador Ted Cruz.

Como sempre, a economia também está no topo das preocupações dos eleitores, mesmo que a taxa de desemprego no Estado e outros indicadores sejam melhores que na média nacional. Na hora do voto, muitos afirmam que a capacidade dos candidatos de lidar com as ameaças externas é decisiva.

Não é uma tendência apenas entre republicanos, tradicionalmente inclinados a apoiar medidas mais duras.

"Segurança nacional é a minha maior preocupação", diz a aposentada Jean Brown, 62, na cidadezinha de Adel, 50 quilômetros da capital do Estado, Des Moines. Registrada para votar nas prévias democratas, ela apoia Hillary Clinton por sua experiência como secretária de Estado. "Nosso país tem muitos desafios externos, e ela é a mais qualificada para encará-los."

Hillary e Trump lideram a disputa nos dois partidos, mas as pesquisas prometem uma votação acirrada, com boas chances para o senador Bernie Sanders, entre os democratas, e Cruz, no lado republicano.

Em um Estado com pouca diversidade, onde mais de 90% são brancos e 40% vivem na área rural, parece haver pouca disposição em abrir as portas a refugiados de guerras e de outras tragédias.

Marcelo Ninio/Folhapress
Frederik Cornelius-Knudsen, 17, que votará em Sanders, com cartaz com slogan
Frederik Cornelius-Knudsen, 17, que votará em Sanders, com slogan "Um futuro para se acreditar"

'ESTADO-PÊNDULO'

Plantador de milho e feijão em uma das quase 90 mil fazendas familiares de Iowa, Joe Braley já apoiou candidatos presidenciais democratas, mas neste ano está decidido a votar no Partido Republicano principalmente pelo fator segurança.

Tal sentimento vai muito além de Iowa: uma pesquisa do Centro Pew de Pesquisas indicou que 46% dos norte-americanos confiam mais nos republicanos para enfrentar a ameaça terrorista, ante 34% a favor dos democratas.

Brendan Hoffman - 1º.fev.2016/Getty Images/AFP
Voluntário vende artigos de Donald Trump durante comício no Estado de Iowa
Voluntário vende artigos de Donald Trump durante comício no Estado de Iowa

Num "Estado-pêndulo" como Iowa, onde não há tendência histórica para um dos partidos, eleitores sem alinhamento político claro, como Joe, podem ser decisivos para o desfecho das prévias.

Simpatizante do jovem senador Marco Rubio, "o mais ponderado entre os candidatos republicanos", Joe se opõe à ideia de Trump de barrar todos os muçulmanos, mas acha que o país deveria rejeitar refugiados da Síria.

"Não temos como garantir que não há terroristas. Melhor não arriscar", diz.

Conheça os candidatos


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