Ao ser recebida pelo colega equatoriano Rafael Correa no Palácio presidencial, em Quito, a presidente Dilma Rousseff disse nesta terça (26) que o Brasil só voltará a crescer quando a América Latina também o fizer.
"O Brasil não consegue restabelecer suas condições sustentáveis de crescimento nesse novo contexto internacional sem o crescimento dos demais países da América Latina", disse, destacando que a "integração regional é estratégica nesse momento", com a queda dos preços das commodities e a desaceleração da economia chinesa.
Rodigo Buendia/AFP | ||
Dilma Rousseff e seu colega Rafael Correa se reúnem na sede da Presidência equatoriana, em Quito |
O encontro de Dilma, que veio ao Equador para a cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), e Correa teve teor essencialmente comercial. Além do chanceler Mauro Vieira, o único ministro que acompanha Dilma na viagem é Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio).
O comércio bilateral registrou US$ 783 milhões em 2015, o menor fluxo desde 2009 –influenciado, sobretudo, pela crise no Equador diante da queda no preço do petróleo.
Os presidentes concordaram em fazer avançar o projeto do corredor Manta-Manaus, que prevê ligar, por hidrovia e rodovia, a cidade brasileira ao porto equatoriano. Na pauta desde 2006, o projeto foi afetado pela crise deflagrada em 2008 com a expulsão da Odebrecht do Equador.
Segundo o Itamaraty, em comparação com o trajeto pelo canal do Panamá, o corredor pelo Equador reduziria em até dez dias a exportação do Brasil à Ásia pelo Pacífico.
Dilma também disse que ela e Correa examinaram questões relativas aos investimentos de empresas brasileiras no Equador, especialmente em infraestrutura. Após a crise em 2008, a Odebrecht retornou ao país em 2012 e hoje opera projetos como hidrelétricas e rodovias. Recentemente, venceu a concorrência para a construção da linha 1 do metrô de Quito com a espanhola Acciona.
Os dois presidentes anunciaram que realizarão uma reunião em março para resolver também questões fitossanitárias que impedem a exportação de produtos equatorianos ao Brasil, como tipos específicos de camarão e banana.
Correa destacou a necessidade da parceria com o país para a retomada do crescimento no Equador, com linhas de financiamento às empresas equatorianas.
"Não mercantilizamos relações com países amigos, mas o Equador perdeu US$ 7 bilhões no último ano por conta da crise", disse Correa.
"Por seu tamanho, o Brasil é um financiador regional e precisamos do seu dinheiro."
AGENDA 2020
Numa deferência a Correa, Dilma disse reconhecer a importância das metas até 2020 de redução da pobreza e da desigualdade que o equatoriano propôs para ser aprovado na cúpula da Celac, que se encerra nesta quarta.
No entanto, a chamada "Agenda 2020" foi recebida com cautela por parte dos 33 membros da Celac, como o Brasil, já que a ONU já estabeleceu, em 2015, os objetivos de desenvolvimento sustentável para todos os países-membros.
"Já existe a agenda 2030 [dos objetivos de desenvolvimento sustentável] da ONU, não faz sentido criar uma nova, que crie padrões próprios para a região", disse Vieira.
Um dos pontos altos da cúpula deve ser o compromisso firmado pela Celac em apoiar o acordo de cessar-fogo entre o governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), previsto para este ano.
Os líderes do bloco se reunirão nesta quarta com o vice-secretário-geral da ONU Jeffrey Feltman para discutir o estabelecimento da missão de observação aprovada pelo Conselho de Segurança.