Folha de S. Paulo


Irã está aberto para negócios com Brasil, afirma chanceler de Teerã

"O Irã está aberto para o Brasil. Aberto para a cooperação econômica e para a cooperação industrial."

Palavra à Folha de seu chanceler Mohammad Javad Zarif, sorrindo de orelha a orelha depois que o "novo" Irã, livre das sanções internacionais, foi abraçado pelo mundo de negócios.

Fabrice Coffrini/AFP
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, concede entrevista em Davos
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, concede entrevista em Davos

O abraço se deu nesta quarta-feira (20) em sessão especial do encontro-2016 do Fórum Econômico Mundial. A sessão nem constava do programa original, mas foi rapidamente encaixada depois que, dois dias antes, foram oficialmente levantadas as sanções contra o país persa.

Se há dois dias o abraço ao Irã partira do mundo político, com o levantamento das sanções, no Fórum de Davos o interesse dos 1.500 executivos de todas as grandes multinacionais que são a clientela do evento anual confirmou as novas perspectivas que se abrem para Teerã.

Natural que Javad Zarif, o grande arquiteto do acordo que permitiu pôr fim às sanções, exsudasse felicidade. Ele confirmou o que a Folha já anunciou: está para viajar ao Brasil, o que já deveria ter acontecido, não fosse a cerimônia de implementação do acordo no fim de semana.

A seu lado, Mohammad Nahavandian, chefe de gabinete do presidente Hasan Rowhani, se comportava como caixeiro-viajante disposto a vender um país até há pouco tratado como pária pela comunidade internacional.

Nahavandian anunciou para o público de Davos que o crescimento iraniano este ano será de pelo menos 5% —maior que a média mundial (3,4%, segundo a mais recente projeção do Fundo Monetário Internacional). Melhor ainda, verdadeira música aos ouvidos dos executivos: o objetivo do novo plano governamental é obter 8% na média para os próximos cinco anos.

O iraniano foi sutil ao pedir investimentos no país: disse que os projetos de desenvolvimento serão financiados com capital próprio, mas também "damos as boas vindas a capital estrangeiro".

Zarif falou mais sobre política, mas usando sempre um tom moderado e conciliatório. Chegou até a repetir frase do presidente Barack Obama (líder de um país que ainda não tem relações com o Irã): "Diplomacia funciona" é a "mensagem global" que permitiu o acordo nuclear.

SÍRIA

Diplomacia é, aliás, a palavra de ordem de Zarif para solucionar a tremenda crise síria. Repetiu aos executivos os quatro pontos da proposta iraniana, que fazem todo o sentido, caso se pudesse excluir a facção terrorista Estado Islâmico da equação.

Ponto um: cessar-fogo (quem vai convencer o EI?).Dois: governo de unidade nacional. Três: reforma constitucional. Quatro: eleição com base na nova Constituição.

A proposta passa, inexoravelmente, pela aceitação pelos EUA da permanência do ditador Bashar al-Assad no poder até ao menos a eleição.

Zarif acha viável implementar o plano. Seu argumento é que, se foi possível um acordo nuclear com os EUA, com o qual há pendências antigas, tem que ser possível entre países vizinhos.

O abraço ao Irã, em todo o caso, não foi completo: no dia em que Zarif e Nahavandian se apresentavam em Davos, o chanceler saudita, Adel bin Ahmed al-Jubeir, escrevia no "New York Times":

"A verdadeira questão é se o Irã quer viver sob as regras do sistema internacional ou permanecer um Estado revolucionário, comprometido com a expansão e o desafio à lei internacional".

Zarif respondeu: "O Irã não é ameaça a ninguém". E alfinetou: "Nosso gasto militar é um décimo do saudita".


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