Folha de S. Paulo


Curdos têm expulsado comunidades árabes no norte do Iraque, diz ONG

Vídeo da Anistia Internacional sobre a expulsão de comunidades árabes no Iraque pelas forças curdas

Vídeo da Anistia sobre a expulsão de comunidades árabes no Iraque

Forças curdas demoliram, explodiram e incendiaram milhares de casas de árabes no norte do Iraque, em uma campanha que pode constituir crime de guerra, apontou a organização de direitos humanos Anistia Internacional em um relatório publicado nesta quarta-feira (20).

A Anistia disse ter encontrado evidências de uma "campanha organizada" dos curdos para expulsar comunidades árabes como forma de vingança por considerar que elas apoiam a milícia radical Estado Islâmico (EI), que tomou controle de cerca de um terço do território iraquiano em 2014.

Desde então, as forças curdas peshmerga têm expulsado os extremistas do norte do Iraque com ajuda de ataques aéreos de uma coalizão internacional liderada pelos Estados unidos, expandindo seu controle sobre territórios etnicamente mistos que reivindicam como seus.

Reprodução/Anistia Internacional
Satellite images back up evidence of deliberate mass destruction in Peshmerga-controlled Arab villagesCrédito: Reprodução/Anistia Internacional
Fotos de satélite mostram vila árabe, antes e depois da conquista curda
Satellite images back up evidence of deliberate mass destruction in Peshmerga-controlled Arab villagesCrédito: Reprodução/Anistia Internacional
Fotos de satélite mostram vila árabe, antes e depois da conquista curda

"As forças do Governo Regional do Curdistão parecem liderar uma campanha organizada para deslocar por meio da força comunidades árabes ao destruir vilas internas em áreas recapturadas do EI no norte do Iraque", disse Donatella Rovera, conselheira para respostas de crise da Anistia.

"O deslocamento forçado de civis e a destruição deliberada de casas e de propriedade sem justificativa militar podem ser considerados crimes de guerra", acrescentou.

O relatório, feito com base em investigação de campo em 13 vilarejos e cidades e em relatos coletados de mais de cem testemunhas, também inclui fotos de satélite que mostram a destruição em larga escala de casas nas províncias de Nineveh, Kirkuk e Diyala.

Árabes que fugiram de suas casas também têm sido impedidos por forças curdas de retornar a territórios recapturados do EI, disse a Anistia.

Dindar Zebari, representante do governo curdo, disse que a destruição registrada pela Anistia resulta de confrontos entre as tropas peshmerga e combatentes do EI, bem como de bombardeios e de bombas caseiras deixadas pelos milicianos.

Com relação ao deslocamento forçado de árabes, Zebari disse que a coalizão internacional pediu que civis fossem mantidos longe das áreas próximas às frentes de combate, e que curdos também têm sido impedidos de retornar a alguns vilarejos retomados por questões de segurança.

Zebari ressaltou que a região do Curdistão abrigou 700 mil árabes que fugiram da violência em outras partes do país.

Reprodução/Anistia Internacional
Satellite images back up evidence of deliberate mass destruction in Peshmerga-controlled Arab villagesCrédito: Reprodução/Anistia Internacional
Foto de satélite mostra evidências de destruição de vilas árabes pelas forças curdas

A Anistia exortou a coalizão internacional a garantir que qualquer ajuda fornecida aos curdos não fomente abusos, descritos como uma tentativa de reverter a campanha de arabização conduzida sob o regime do ex-ditador Saddam Hussein, durante o qual milhares de curdos foram expulsos de suas casas.

"As forças do governo curdo têm a obrigação de julgar de maneira justa indivíduos suspeitos de ter ajudado incitado crimes do EI", disse Donatella Rovera.

"Mas não podem punir comunidades inteiras por crimes perpetrados por alguns de seus membros, ou com base em suspeitas vagas, discriminatórias e infundadas de que elas apoiam o EI."

ONU

Nesta terça-feira (19), a ONU (Organização das Nações Unidas) publicou um relatório em que aponta que a crescente onda de violência no Iraque deixou mais de 18 mil civis mortos e deslocou 3,2 milhões de pessoas desde 2014.

O documento diz que foram registradas violações de direitos humanos cometidas pelo EI, pelas tropas do governo iraquiano e de milícias aliadas, e também pelas forças curdas.


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