Folha de S. Paulo


Maduro pede à oposição e ao setor privado apoio na crise

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu nesta terça (19) à oposição e ao setor privado que apoiem um controverso pacote de medidas do governo para reverter a profunda recessão e o desabastecimento no país.

O apelo foi lançado no mesmo dia em que a Assembleia Nacional unicameral, agora sob domínio de opositores, começou a analisar um decreto de emergência econômica com o qual Maduro pretende atribuir-se poderes especiais para enfrentar a crise.

"Espero que o decreto seja aprovado por unanimidade [e] que a Assembleia me ajude a navegar por essa tormenta", disse Maduro num evento que inaugurou um Conselho Nacional de Economia Produtiva formado por empresários, políticos, economistas e movimentos sociais.

Miraflores Palace/Handout/Reuters
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, discursa a empresários em Caracas nesta terça-feira (19)
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, discursa a empresários em Caracas nesta terça-feira (19)

A Assembleia Nacional tem até sexta-feira para aprovar ou vetar o decreto pedido por Maduro no último dia 14.

O texto, que também precisa do aval da corte suprema (alinhada com o chavismo), pretende instaurar um regime especial de poderes para o presidente por 60 dias.

As prerrogativas solicitadas incluem o controle de orçamentos sem supervisão da Assembleia, a possibilidade de intervir em empresas e bens privados e restrições na retirada de dinheiro.

Maduro também pediu ajuda aos empresários, a quem disse estar "estendendo a mão para o diálogo."

"Nada une mais o ser humano que o trabalho conjunto", afirmou o presidente. Ele disse que os esforços entre o setor público e o privado estarão concentrados no Conselho Nacional de Economia Produtiva, que deve começar os trabalhos nesta quarta.

Embora dominado por aliados do chavismo, o conselho também será integrado por políticos opositores, como o governador do Estado de Lara, Henri Falcón, e por grandes empresários.

Maduro afirmou que o objetivo das mudanças propostas é "substituir o modelo rentista pelo modelo produtivo". Ele se referia à histórica dependência do petróleo por parte da Venezuela.

Atualmente, de cada US$ 100 arrecadados pelo país, US$ 96 vêm da exportação petroleira. Em 1999, primeiro dos 17 anos de governo chavista, eram US$ 80.

As finanças públicas venezuelanas –já combalidas por altos gastos, ineficiência crônica e corrupção– entraram em situação crítica com a queda de quase 70% no preço do barril de petróleo desde junho de 2014.

Além do desabastecimento, causado em grande parte pelos ataques do governo contra o setor produtivo, os venezuelanos sofrem com queda de 4,5% do PIB e inflação de 109% na taxa oficial.


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