Folha de S. Paulo


Premiê mantém nomeado, e Israel ficará sem embaixador no Brasil

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse nesta quinta-feira (14) que Dani Dayan continua sendo o seu nomeado para ocupar o cargo de embaixador de Israel em Brasília.

Foi a primeira vez que o premiê tocou no assunto publicamente desde agosto, quando Dayan foi indicado.

Com isso, e diante da posição brasileira de postergar indefinidamente o agrément (aprovação do Itamaraty) a Dayan, a ausência de um embaixador fará com que Israel deixe ao segundo escalão da embaixada o relacionamento diplomático com o Brasil –diminuindo, na prática, o nível das relações bilaterais.

"Acredito que Dani Dayan é um candidato excepcionalmente qualificado. Ele continua a ser meu candidato. Acho que rotular pessoas é o próximo estágio após rotular produtos, e não quero rotular ninguém", disse Netanyahu.

O premiê afirmou, porém, que pretende melhorar o elo com o Brasil: "Na verdade, temos um relacionamento crescente. Espero que possamos fortalecer essas relações".

Ainda não está certo por quanto tempo a embaixada ficará sem comando, mas se estima que isso se estenderia por seis meses a um ano.

O próprio Dayan afirmou, em entrevista à rádio do Exército israelense, que "é realista" quanto às chances de ser aceito pelo Brasil e que, de certa forma, o cargo já não lhe parece "desafiador".

"Entendo perfeitamente a situação. No último meio ano, o Brasil se deteriorou em todos os sentidos e se tornou bem menos importante e desafiador ser embaixador", declarou Dayan à rádio.

"Mas não se trata de questão pessoal. O primeiro-ministro precisa decidir como lidar com um país que boicota um cidadão israelense por causa do local onde mora."

Mesmo confirmando oficialmente que Dayan continua a ser seu nome para o Brasil, pessoas ligadas à Chancelaria israelense disseram à Folha que Netanyahu já sabe que ele não será aprovado.

Tanto que o premiê procura um novo cargo para Dayan, que deve ser enviado a um dos dois consulados gerais nos Estados Unidos, em Nova York ou Los Angeles. Há, também, pelo menos duas outras opções de embaixadas.

HISTÓRICO

A controvérsia quanto à nomeação começou em agosto. Dayan foi apontado como candidato ao cargo depois que o embaixador anterior, Reda Mansour, voltou a Israel por questões pessoais após pouco mais de um ano.

A escolha não agradou ao governo brasileiro porque Dayan foi anunciado por Netanyahu pelo Twitter (sem aviso prévio ao Itamaraty) e porque ele liderou, de 2007 a 2013, o conselho Yesha (representante dos 500 mil colonos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental).

A diplomacia brasileira é contra a política de ocupação dos territórios palestinos.

As tentativas de Israel de contatar diretamente a cúpula do governo brasileiro não deram certo. Netanyahu teria se queixado, inclusive, de que a presidente Dilma Rousseff havia "fugido" dele na conferência da ONU sobre o clima, em dezembro.

Em Buenos Aires, onde se reuniu nesta quinta (14) com a chanceler argentina, Susana Malcorra, o chanceler do Brasil, Mauro Vieira, disse que as relações brasileiras com Israel são "excelentes".

Vieira afirmou não ter "nenhuma informação" sobre os israelenses ficarem sem embaixador no Brasil.

Colaborou LUCIANA DYNIEWICZ, de Buenos Aires


Endereço da página:

Links no texto: