Folha de S. Paulo


Merkel defende expulsão de refugiados condenados da Alemanha

Wolfgang Rattay/Reuters
Manifestantes anti-imigração do movimento Pegida protestam na Alemanha
Manifestantes anti-imigração protestam na Alemanha

A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu neste sábado (9) enrijecer as regras para expulsar refugiados condenados no país. Segundo ela, mesmo os que receberam suspensão condicional da pena devem deixar a Alemanha.

"Se um refugiado não cumpre as normas, devem existir consequências. Isto significa que ele deve perder o direito de residência, independente se tem uma suspensão da pena ou uma condenação à prisão", disse Merkel, no mesmo dia em que centenas de manifestantes protestaram em Colônia (oeste do país) devido à participação de refugiados em agressões sexuais contra mulheres durante as comemorações de Ano-Novo.

"Se a lei não é suficiente, a lei deve ser alterada [...] O direito ao asilo pode ser perdido se uma pessoa é colocada em condicional ou presa", afirmou Merkel. A chanceler afirmou que uma lei mais rígida "não beneficiará apenas os interesses dos cidadãos, mas também os dos refugiados que estão aqui".

Wolfgang Rattay/Reuters
Manifestantes anti-imigração do movimento Pegida protestam na Alemanha
Manifestantes contra o movimento anti-islã Pegida contraprotestam na Alemanha

Durante reunião em Mainz, sudoeste da Alemanha, a direção do partido conservador da chanceler, o CDU, concordou em solicitar que a perda ao direito de asilo na Alemanha se torne mais sistemática em caso de delito. Essa postura deverá ser debatida com o seu aliado na coalizão de governo, o partido social-democrata SPD.

A lei alemã impõe atualmente uma condenação de pelo menos três anos de prisão para permitir a expulsão de um solicitante de asilo durante a análise de seu caso. Além disso, a vida ou a saúde do solicitante não podem estar ameaçados em seu país de origem.

A Alemanha recebeu 1,1 milhão de pedidos de asilo em 2015, e os eventos de 31 de dezembro em Colônia deixaram o país em estado de choque, com o aumento das críticas à política de recepção promovida por Merkel.

Neste sábado (9), a polícia anunciou que o número de agressões em Colônia na noite de Reveillón foi muito maior do que o previamente divulgado. Segundo as autoridades, houve 379 denúncias, 40% delas de agressão sexual. O número computado anteriormente era de 170 denúncias.

MOVIMENTO XENÓFOBO PROTESTA

Cerca de 1.700 simpatizantes do movimento "Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente" (Pegida), que promove a islamofobia, realizaram manifestação neste sábado (9), em Colônia. O Pegida foi criado em 2014 na cidade de Dresden (leste).

Cartazes com a frase "Rapefugees not welcome", um jogo de palavras para acusar os refugiados ("refugees") de estupro ("rape", em inglês), eram exibidos por algumas pessoas presentes nos arredores da catedral de Colônia, assim como bandeiras da Alemanha.

"Alemanha sobreviveu à guerra, à peste e ao cólera, mas sobreviverá a Merkel?", questionava um cartaz, em referência à política de recepção de refugiados promovida pela chanceler.

"Merkel se tornou um perigo para o nosso país, Merkel deve sair", gritava um manifestante no megafone, enquanto Christiana, que tem quatro filhos, afirmou que se sentia "despojada da liberdade".

Houve confrontos entre manifestantes e policiais, e duas pessoas foram detidas.

A poucos metros do protesto, do outro lado da barreira de proteção policial, mais de mil pessoas participaram de uma contramanifestação, aos gritos de "Nazistas fora" e cartazes como: "O fascismo não é uma opinião, e sim um crime".

"Estamos aqui para calá-los. É inaceitável que o Pegida explore a horrível violência sexual cometida aqui na noite de Ano-Novo e propague suas bobagens racistas", disse Emily Michels, 28.

CRIMES NO ANO-NOVO

A polícia alemã anunciou na sexta (8) que identificou 18 solicitantes de asilo entre o grupo de 31 homens que foram detidos sob suspeita de cometer crimes durante a festa de Ano-Novo de Colônia, no oeste do país.

Os agentes afirmam que eles fazem parte da quadrilha de criminosos que atacou principalmente mulheres que participavam da festa de Reveillón em frente à estação de trem. Algumas das vítimas sofreram abuso sexual e estupro, o que provocou revolta no país.

Porém, nenhum dos presos desta sexta estaria envolvido em crimes sexuais, de acordo com o porta-voz do Ministério do Interior, Tobias Plate. Os homens são suspeitos de praticar 32 delitos ao todo, como agressão, furto e roubo.

Dentre eles, há nove argelinos, oito marroquinos, cinco iranianos, quatro sírios, dois alemães, um iraquiano, um sérvio e um americano. Plate não divulgou, no entanto, quais deles eram os solicitantes de asilo.

Oliver Berg/AFP
A artista Milo Moire carrega cartaz em que pede respeito às mulheres em protesto em Colônia
A artista Milo Moire carrega cartaz em que pede respeito às mulheres em protesto em Colônia

Na quinta (7), a polícia local prendeu um adolescente de 16 anos e um homem de 23 que tinham vídeos das agressões em seus celulares e uma folha de papel com termos vulgares em árabe traduzidos para o alemão.

Além da comoção pelos crimes, a onda de violência no Ano-Novo em Colônia levou a protestos contra o acolhimento de refugiados na Europa. No ano passado, a Alemanha recebeu 1,1 milhão de pedidos de asilo e refúgio.

Para os refugiados, o temor é que a revolta se volte contra eles. "Nossa primeira reação foi: agora vão nos odiar. O que fizeram foi uma vergonha", afirma o kosovar Asim Vllaznim, 32, que chegou à Alemanha com seus cinco filhos.

A onda de violência levou à destituição do chefe de polícia de Colônia, Wolfgang Albers. Para o ministro do Interior do Estado da Renânia do Norte-Westfália, Ralf Jäger, a medida era necessária para recuperar a confiança da população.


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