Folha de S. Paulo


Iraque se oferece para mediar conflito diplomático entre Irã e Arábia Saudita

O Iraque se ofereceu nesta quarta-feira (6) como mediador para tentar resolver o conflito diplomático entre o Irã e a Arábia Saudita. A medida reflete o temor de Bagdá de que um novo conflito sectário ponha em risco sua campanha contra a facção terrorista Estado Islâmico (EI).

"Temos sólidas relações com a República Islâmica [do Irã] e também temos relações com nossos irmãos árabes e, portanto, não podemos ficar em silêncio nessa crise", disse o chanceler iraquiano, Ibrahim al-Jaafari, em entrevista coletiva em Teerã ao lado do chanceler iraniano, Mohamad Javad Zarif, transmitida ao vivo pela televisão estatal iraniana.

Efe
O chanceler iraniano, Mohamad Zarif (à dir.), recebe homólogo iraquiano, Ibrahim al-Jaafari, em Teerã
O chanceler iraniano, Mohamad Zarif (à dir.), recebe homólogo iraquiano, Ibrahim al-Jaafari, em Teerã

O iraquiano foi até Teerã na manhã desta quarta. Não houve reação imediata da Arábia Saudita para a oferta de mediação do Iraque. A Turquia também já havia se oferecido para facilitar o diálogo.

Na mesma entrevista, o iraniano Zarif disse que a Arábia Saudita está aumentando a tensão na região, enquanto Teerã tenta reduzi-la. "Criar tensão não é um sinal de poder, mas de fraqueza", afirmou.

A execução do clérigo dissidente xiita Nimr al-Nimr pela sunita Arábia Saudita no último sábado (2) incendiou ainda mais a ira sectária em todo o Oriente Médio, enfurecendo o Irã, principal potência xiita da região.

Depois que manifestantes atacaram a embaixada saudita em Teerã, Riad e alguns de seus aliados sunitas cortaram relações diplomáticas com o Irã.

O Iraque, onde um governo liderado pelos xiitas tenta se aproximar da minoria sunita enquanto busca retomar o território controlado pelos militantes islâmicos do EI, é particularmente vulnerável a qualquer nova onda de ódio entre as duas principais vertentes muçulmanas.

Milhares de xiitas se reuniram no centro de Bagdá nesta quarta-feira cantando slogans contra a família real saudita. A embaixada da Arábia Saudita no país, que reabriu no mês passado, no entanto, está localizada fora do alcance dos manifestantes, na fortificada Zona Verde de Bagdá.

Ela tinha sido fechada em 1990, após a invasão do Kuait pelo Iraque, e sua reabertura veio como parte do descongelamento das relações sob o governo do premiê Haider al-Abadi. A Arábia Saudita é nominalmente parte de uma coalizão liderada pelos Estados Unidos que visa combater o Estado Islâmico com ataques aéreos.

No início desta semana, Jaafari assegurou a seu homólogo em Riad que a embaixada saudita em Bagdá era segura e não teria o mesmo destino que a embaixada em Teerã, que foi atacada após a execução do clérigo xiita.

Conquistar a população sunita do Iraque tem sido um componente-chave na estratégia da Abadi de enquadrar a guerra contra os militantes do EI, também sunitas, como uma campanha contra o terrorismo, ao invés de uma continuação dos combates históricos entre sunitas e xiitas.

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