Folha de S. Paulo


Apesar de veto, Israel pressionará Brasil a aceitar embaixador

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, que também ocupa o cargo de chanceler, convocou neste domingo (27) uma reunião para discutir como lidar com o mal-estar diplomático relacionado ao veto velado do Brasil à aprovação de Dani Dayan como próximo embaixador em Brasília.

Em entrevista ao jornal "The Times of Israel", a vice-chanceler, Tzipi Hotovely, revelou que, assim que passar o Ano Novo, o embaixador do Brasil em Israel, Henrique Sardinha Pinto, será convocado para ser informado de que Israel espera que a nomeação seja aprovada.

Segundo Hotovely, ele já foi convidado a comparecer à Chancelaria algumas vezes. Mas a mensagem, dessa vez, será mais veemente.

Rina Castelnuovo/The New York Times
Dani Dayan, the head of Israel's settler movement, visits the Eli Jewish settlement in the West Bank, May 24, 2012. Dayan has devoted the past five years to expanding the Jewish presence in those and other disputed historic places across the West Bank as chairman of the Yesha Council. (Rina Castelnuovo/The New York Times) ORG XMIT: XNYT94 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Dani Dayan durante visita a assentamento judaico

"Nosso embaixador anterior voltou há uma semana a Israel, e não vamos nomear outro nome. Israel vai deixar o relacionamento com o Brasil em seu nível diplomático secundário até a aprovação de Dani Dayan", disse Hotovely, referindo-se ao fato de que a embaixada ficará a cargo do ministro Lior Ben Dor.

No encontro, foram discutidas medidas para pressionar o Brasil a aceitar Dayan. Entre elas, um esforço diplomático incluindo apelo à comunidade judaica e a opinião pública brasileiras, passando por lobby junto a pessoas próximas à presidente. Há a expectativa de que Netanyahu se envolva pessoalmente na missão.

O Brasil estaria adiando a aprovação de Dayan pelo fato de que ele presidiu, de 2007 a 2013, o Conselho Yesha, que representa 500 mil colonos israelenses na Cisjordânia —onde mora— e em Jerusalém Oriental. O Brasil é contrário a assentamentos nesses locais.

A vice-chanceler também disse que, caso a situação não seja resolvida, haverá uma verdadeira crise diplomática.

"Dayan é uma pessoa digna, honrada, aceita por todo o espectro político israelense. Vamos dizer: recebam-no, se não vai realmente se tornar uma crise política e não vale a pena chegar a esse ponto."

O encontro aconteceu depois que a nomeação de Dayan completou quase cinco meses, sendo que o Itamaraty não deu, até agora, o "agrément" (autorização, no jargão diplomático) à nomeação. No sábado (26), Dayan quebrou o silêncio numa entrevista à TV afirmando que Israel mudou a avaliação de que o melhor a fazer era apenas esperar pelo "agrément".

Ao "Haaretz", Dayan disse que o premiê não fez o suficiente para ajudá-lo. "A resposta a esse caso vai determinar como países vão receber o próximo embaixador da Judeia e Samaria (Cisjordânia). Se Israel vai aceitar a realidade na qual milhares de israelenses serão desqualificados por causa de onde moram."

O ex-chanceler Avigdor Lieberman, de extrema direita, disse que a escolha foi um erro: "Antes de mandar alguém, você faz uma checagem. Há muitos países nos quais Dayan passaria facilmente, mas não no Brasil de Dilma Rousseff".


Endereço da página:

Links no texto: