Folha de S. Paulo


Número de refugiados e deslocados chegará a 60 mi em 2015, diz ONU

O número de pessoas forçadas a deixar suas casas por causa de guerras, conflitos e perseguições deve ultrapassar 60 milhões em 2015, um recorde histórico, segundo informou na quinta-feira (17) a agência da ONU para refugiados, o Acnur.

Em seu relatório "Mid-Year Trends 2015" (tendências do meio do ano), com estatísticas apuradas de janeiro a junho de 2015, o Acnur mostra que a população de refugiados no mundo (aqueles que precisam sair de seus países de origem) chegou a 20,2 milhões em junho deste ano, ante 19,5 milhões um ano atrás.

Philippe Huguen/AFP
Refugiados e imigrantes entram em caminhão perto de Calais, na França, para tentar chegar à Inglaterra
Refugiados e imigrantes entram em caminhão perto de Calais, na França, para tentar chegar à Inglaterra

É a primeira vez, desde 1992, que a marca dos 20 milhões é ultrapassada. Em apenas seis meses, foram registrados 839 mil novos refugiados —taxa média de quase 4.600 pessoas forçadas a fugir de seus países por dia.

Já o número de deslocados internos, aquelas pessoas que são reassentadas dentro do próprio país de origem, saltou de 26 milhões em junho de 2014 para 34 milhões em junho deste ano.

recorde de refugiados

As solicitações de refúgio —daqueles que aguardam a decisão dos países de acolhê-los como refugiados ou não— passaram, nesse período, de 558,6 mil para 993,6 mil.

A principal causa para o aumento no número de refugiados e deslocados internos é o conflito da Síria. Desde 2011, houve um aumento de 4,7 milhões na população de refugiados no mundo –sendo que 4,2 milhões (89%) vieram da Síria.

"A comunidade internacional precisa enfrentar as causas dos deslocamentos. A solução da crise de refugiados não é humanitária, é política. É necessário resolver conflitos como o da Síria e reconstruir os países", disse à Folha Luiz Fernando Godinho, porta-voz do Acnur no Brasil.

PAÍSES POBRES

Enquanto a União Europeia discute formas de reforçar a segurança das fronteiras e estabelecer cotas para evitar acúmulo de refugiados em certos países, são as nações em desenvolvimento que mais sofrem com a crise.

A Turquia é o país que mais acolhe refugiados no mundo —era 1,84 milhão em seu território em junho. Mas o Líbano recebe mais refugiados em relação ao tamanho da população do que qualquer outro país do mundo: 209 refugiados por 1.000 habitantes.

Entre os países que mais acolhem refugiados estão também Paquistão, Irã, Etiópia, Jordânia, Uganda, Chade e Sudão.

Em números de junho deste ano, a Alemanha tinha 250.299 refugiados, e 311.551 aguardavam decisão sobre pedido de refúgio.

"O argumento de que os países europeus estariam sobrecarregados não é válido, porque eles têm uma capacidade financeira muito maior e recebem um número relativamente muito menor de refugiados do que vários países em desenvolvimento", argumenta Godinho.

O Acnur esclarece que o fluxo de pessoas que chegam de barco à Europa está só parcialmente refletido no relatório, uma vez que as chegadas aumentaram no segundo semestre de 2015.

Em janeiro de 2015, foram registradas 5.500 pessoas fazendo a travessia; já em outubro, o número era de 221 mil (cai no inverno, pelas dificuldades do trajeto).


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