Folha de S. Paulo


FBI passa a considerar ataque a tiros em San Bernardino como terrorismo

Atiradores atacam centro comunitário nos EUA

O FBI (polícia federal americana) anunciou nesta sexta-feira (4) que passou a investigar o ataque a um centro comunitário na Califórnia que matou 14 pessoas na quarta (2) como terrorismo

O diretor do órgão, James Comey, afirmou, em pronunciamento ao lado da secretária de Justiça, Loretta Lynch, que há "indícios de radicalização" dos perpetradores e "potencial inspiração em grupos terroristas estrangeiros".

A coautora, a paquistanesa, Tashfeen Malik, 27, teria prometido lealdade ao Estado Islâmico usando pseudônimo no Facebook. A informação foi passada por agentes não identificados à rede CNN, ao jornal "The New York Times" e à agência Associated Press.

Segundo esses veículos, a possível inspiração no EI tem sido tratada como um caso de radicalização por conta própria da mulher e seu marido, o americano de origem paquistanesa Syed Farook, 28.

O casal, que se dizia muçulmano, foi morto horas após a ação, no condado de San Bernardino, nesta quarta (2).

O diretor do FBI minimizou a relevância de uma possível ligação da dupla com pessoas monitoradas pelo órgão e fez um apelo para que não seja superdimensionada.

"Até agora, não vemos indicação de que eles tenham sido parte de uma organização maior, que formem uma célula ou que façam parte de uma rede", afirmou.

Com 21 feridos, a chacina foi a mais violenta dos últimos três anos nos EUA. Os investigadores disseram que não há no momento nenhum preso relacionado ao caso.

MOTIVAÇÕES

Embora a motivação ainda não esteja clara, o massacre tem sido considerado um dos únicos atentados de fundo islâmico de larga escala desde o 11 de Setembro, além do atentado na maratona de Boston, que deixou três mortos e mais de 260 feridos em 2013. Se confirmada a inspiração, o EI terá motivado a primeira ação em solo americano, segundo a rede CNN.

O diretor-assistente do FBI em Los Angeles, David Bowdich, afirmou que o fato nenhum dos coautores ter estado no radar dos investigadores até a ação "preocupa".

Questionado sobre a possibilidade de a mulher ter influenciado Farook, Bowdich afirmou que não poderia responder, mas ponderou que, "enquanto marido", sabe que os homens são influenciados "até certa medida".

A acusada de ser coautora do ato nasceu no Paquistão e se mudou para os EUA com Farook em 2014.

Segundo a agência Reuters, Malik se instalara na Arábia Saudita com a família 25 anos atrás.

Há cerca de cinco anos, teria voltado ao Paquistão, onde estudou para se tornar farmacêutica, disseram dois oficiais não identificados.

Um tio de Malik afirmou que parentes que visitavam a família na Arábia Saudita voltavam com a impressão de que o pai dela se tornara "conservador e linha-dura".

O FBI investiga registros digitais de ambos em aparelhos de telefone celular que foram esmagados e contas on-line.

Eles tinham mais de 6.000 cartuchos de munição, quatro armas e uma dúzia de bombas. No apartamento alugado pelo casal, havia objetos religiosos, brinquedos, louça suja e comida.

DEFESA DA FAMÍLIA

Advogados da família de Farook criticaram a associação do ato a motivações religiosas e reclamaram de tratamento desigual -em outros ataques que não envolvem muçulmanos, alegam, a religião dos autores não é mencionada em tom acusatório.

A defesa disse ainda que, até o momento, a investigação não permite atribuir o ato a inspiração ou conexão com grupo terrorista organizado e afirmou que os familiares de Farook têm sofrido ameaças.

A mãe, as duas irmãs e o irmão do acusado "não tinham ideia" e ficaram "chocados" com o ataque. Farook foi descrito como homem "introvertido, de poucos ou nenhum amigo". Malik era "muito reservada, mantinha-se isolada e era muito conservadora", segundo David Chesley.

A defesa dos familiares contestou também a versão do parente que falou à Reuters: disse que Malik se mudou mais velha para a Arábia Saudita e não era farmacêutica, mas "dona de casa".

Conforme os advogados, o casal era tradicional e religioso e de fato se conheceu em um site, por volta de 2013.


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