Folha de S. Paulo


Primeiro café que foi alvo de atentado é reaberto em Paris

O café La Bonne Bière, no 10º distrito de Paris, onde um dos ataques terroristas de 13 de novembro deixou cinco mortos, reabriu as portas na manhã desta sexta-feira (4). Foi o primeiro dos estabelecimentos visados a retomar suas atividades, exatamente três semanas após os atentados.

A pintura do local foi retocada, e os buracos abertos por balas nas paredes, fechados. Vidros e mobiliário da varanda também são outros agora.

Na fachada do prédio em que o café está instalado, uma faixa com a inscrição "je suis en terrasse" (estou na varanda do bar) —slogan onipresente no pós-13 de novembro, repetido para sinalizar destemor— recebia os clientes.

Na porta do restaurante, a equipe escreveu sobre uma lousa um agradecimento aos socorristas, à polícia e às pessoas que por 21 dias depositaram flores, velas e mensagens na calçada em frente. "É tempo de estarmos juntos de novo e de seguir adiante para não esquecer", concluía o texto.

Béatrice Dubois, 59, desde 1986 assídua da casa, onde diz tomar café diariamente, pensa o mesmo. "É preciso avançar, a vida se impõe. Reabrir é dar uma banana para os terroristas", afirmou ela, enquanto terminava de almoçar num salão lotado, por volta das 15h (meio-dia no Brasil) de sexta.

Gabrielle Leroy, 24, outra habituée do local, estava ali até duas horas antes do ataque. Na reabertura, foi ao Bonne Bière com amigas temendo que os donos tivessem descartado as homenagens deixadas na entrada.

"Fiquei com medo de que eles quisessem passar logo por cima do que aconteceu. Do jeito que está, sinaliza que não esqueceram [os atentados], mas tampouco ficarão presos na tristeza."

O memorial improvisado incomodou um pouco a Didier Pech, 56, sentado à varanda no concorrido happy hour, chope na mão. "Parece que a gente está num cemitério", comentou, apontando para as pilhas de flores diante de si.

"Mas compreendo o gesto. Estou aqui hoje [sexta] para me manifestar, bebendo, fumando, pegando uma mesa do lado de fora. Ficamos traumatizados, sim, mas não vamos deixar de viver. Não temos medo."

Perguntado se repetiria a "militância" quando da reabertura das outras casas atingidas no dia 13, Pech mostrou que aos poucos os parisienses recobram seu humor acerbo. "Não vou fazer peregrinação mórbida, né? Isso aqui não é Lourdes [santuário católico no sul francês]."

A pouco mais de dois quarteirões dali ficam o Carillon e o Petit Cambodge, onde 15 pessoas perderam a vida. O primeiro deve voltar a receber clientes entre o fim de dezembro e o começo de 2016.

O segundo fará o mesmo no meio de janeiro. No 11º distrito, o La Belle Equipe, cenário de 19 mortes, pode também reabrir em janeiro. Já a sala de espetáculos Bataclan, onde houve 90 mortes, não deve retomar sua programação antes do fim de 2016.


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