Folha de S. Paulo


Papa encerra giro pela África com missa e visita a mesquita em Bangui

Encerrando sua primeira visita à África, o papa Francisco celebrou nesta segunda-feira (30) uma grande missa no estádio de Bangui, capital da República Centro-Africana.

Na cerimônia, o pontífice pediu que os cidadãos do país se perdoem mutuamente e trabalhem juntos pela paz.

"É preciso perdoar quem nos prejudicou, nos comprometer a construir uma sociedade mais justa e fraterna, na qual ninguém se sinta abandonado", disse o papa a uma audiência de cerca de 30 mil pessoas.

A ascensão de grupos insurgentes na República Centro-Africana provocou uma espiral de violência contra as comunidades e milícias civis cristãs, religião majoritária no país.

Poucas horas antes da missa, Francisco visitou uma mesquita em PK5, bairro de Bangui sitiado por milícias cristãs que têm impedido nos últimos meses a locomoção de muçulmanos.

O papa chegou a local de papamóvel, protegido por muitos guarda-costas e tropas internacionais, e foi recebido por líderes islâmicos.

"Cristãos e muçulmanos são irmãos e irmãs", disse Francisco na visita, que representou um passo simbólico em favor da reconciliação entre os grupos religiosos do país. "Os que clamam que acreditam em Deus também devem ser homens e mulheres de paz."

O pontífice ressaltou que não se pode confundir religião com conflito, e disse que a religião não deve servir de pretexto para interesses particulares.

Após a saída do papa, uma multidão gritava, na língua local, sango: "o ódio acabou!".

Francisco deixou Bangui no início da tarde (manhã em Brasília) em direção ao Vaticano, após visitar em seis dias Quênia, Uganda e República Centro-Africana.

SEM DECLARAÇÕES POLÊMICAS

Na sua primeira visita ao continente africano, o papa Francisco atraiu multidões e pregou o combate à desigualdade social e à violência sectária.

Durante o giro por Quênia, Uganda e República Centro-Africana, além da visita à PK5 –interrompendo os rotineiros confrontos entre milícias cristãs e muçulmanas no bairro de Bangui–, o pontífice encontrou líderes de outras religiões, buscando apontar o diálogo ecumênico como resposta para o avanço do terrorismo.

A proximidade do papa com a população, por meio de carreatas e de missas em locais abertos, contrastou com a presença ostensiva de milhares de policiais e soldados.

Francisco concluiu a viagem sem declarações polêmicas, diferentemente de seus antecessores.

Em 2009, durante visita ao continente, Bento 16 sugeriu que a distribuição de preservativos poderia agravar a epidemia de Aids. Em 1989, João Paulo 2º tinha dito que apoiar o uso da camisinha no combate à Aids seria "moralmente ilícito".

A visita de Francisco à África encerra um ano marcado por viagens a países da América do Sul e da Ásia.

Diante da crise do catolicismo, o papa latino-americano parece simbolizar a estratégia da Igreja Católica de reconquistar fiéis no Terceiro Mundo.


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