Folha de S. Paulo


Brasil enviará cônsul em Washington para acompanhar eleição na Venezuela

O cônsul-geral do Brasil em Washington, embaixador Antonino Mena Gonçalves, será o representante brasileiro na missão da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) que acompanhará a eleição parlamentar na Venezuela, no dia 6 de dezembro, segundo a Folha apurou.

A escolha põe fim à incerteza sobre a participação do Brasil após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) se retirar da missão em protesto contra a falta de garantias para uma observação crível e o veto de Caracas ao ex-ministro brasileiro Nelson Jobim como chefe da delegação.

Diante do mal-estar causado pela decisão do TSE, o ex-presidente dominicano Leonel Fernández, chefe da missão da Unasul, pediu um assessor ao governo brasileiro, que indicou Mena Gonçalves.

Fontes diplomáticas ainda mencionaram o embaixador aposentado e ex-ministro da Defesa José Viegas. Mas ele negou ter sido convidado e ressaltou que, de qualquer forma, não poderia ir à Venezuela por razões pessoais.

A decisão de escalar um diplomata para substituir peritos do TSE foi recebida com ceticismo pela oposição venezuelana, que teme fraudes.

"Um embaixador dá no mesmo que um astronauta. São pessoas que não têm a menor capacidade de ajudar no esforço de monitoramento", disse um opositor que pediu para não ser identificado.

No Brasil, a oposição também questionou a escolha.

O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, acusou o governo brasileiro de "omissão" diante dos abusos eleitorais cometidos pelo chavismo.

"Nomear um embaixador não resolve nada. Estava na cara que esta missão seria uma farsa para legitimar o resultado", afirmou.

ESPECIALISTA

Apesar das reservas quanto à função na missão da Unasul, o embaixador Mena Gonçalves é descrito por colegas como grande conhecedor dos temas de América Latina.

Carlos Garcia Rawlins - 6.mar.2015/Reuters
O secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper (centro), com chanceleres do grupo em Caracas
O secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper (centro), com chanceleres do grupo em Caracas

Mena Gonçalves, que chefiou o Departamento das Américas e foi embaixador na Colômbia e na Bolívia, também é considerado um profissional de espírito crítico e sem filiação ideológica.

Mena Gonçalves era embaixador em La Paz quando o governo de Evo Morales ocupou e nacionalizou instalações da Petrobras, em 2006.

Segundo relatos, ele foi crítico à resposta conciliadora defendida pelo então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.

Hoje à frente do consulado-geral na capital dos EUA, provável posto final na carreira, o embaixador diz a colegas que se sente à vontade para dizer o que pensa.

A missão que integrará, porém, carece das prerrogativas necessárias para um monitoramento eficaz.

Os representantes da Unasul serão acompanhadores, não observadores, e deverão se abster de emitir críticas contundentes ao processo.

Enquanto o TSE recomendava iniciar a supervisão em meados de outubro, os acompanhadores só iniciaram formalmente as atividades nos últimos dias, o que dificulta uma avaliação abrangente do ambiente institucional e da equidade de campanha.

Críticas também são formuladas contra José Luis Exeni, membro da autoridade eleitoral da Bolívia e que será coordenador técnico da missão da Unasul.

Em outubro deste ano, Exeni, tido como próximo dos socialistas, admitiu publicamente irregularidades a favor do partido governista boliviano MAS em eleições locais no departamento de Chuquisaca, mas afirmou que o resultado "já está decidido" e portanto "não tem volta."


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