Folha de S. Paulo


Rússia ameaça retaliação econômica por derrubada de avião pela Turquia

A crise entre Rússia e Turquia, decorrente da derrubada de um caça russo na fronteira com a Síria na terça-feira (24), ganhou novo capítulo nesta quinta (26) com a ameaça do primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, de retaliação econômica.

Entre as sanções estariam a suspensão da importação de produtos alimentícios da Turquia, a restrição de viagens turísticas ao país e o congelamento de projetos tocados pelos dois países, incluindo os de cooperação militar.

A Rússia é a segunda maior parceira econômica dos turcos, e os russos são um dos principais emissores de turistas para a Turquia.

Ainda é cedo para saber se é só bravata de Moscou, mas o discurso do governo de Vladimir Putin e a retórica turca têm acirrado os ânimos no campo político em meio às tentativas de outras lideranças globais de acalmá-los.

O pano de fundo é a derrubada de um caça russo Su-24 na terça por forças turcas na fronteira com a Síria.

Guerra de versões

A Rússia atua na região desde 30 de setembro em parceria com o ditador sírio Bashar al-Assad para combater a facção terrorista Estado Islâmico.

A Turquia mantém a versão de que o avião foi abatido porque invadiu seu espaço aéreo e após receber uma série de alertas.

Já a Rússia afirma que a invasão aérea jamais ocorreu e que nunca recebeu alerta antes de o caça ser atingido –os dois pilotos conseguiram se ejetar, mas um deles morreu.

Yekaterina Shtukina/AFP
Premiê russo, Dmitri Medvedev, lidera reunião de gabinete em Moscou
Premiê russo, Dmitri Medvedev, lidera reunião de gabinete em Moscou

PEDIDO DE DESCULPAS

Putin afirmou nesta quinta que ainda espera um pedido claro de desculpas ou uma "compensação" pelo dano causado.

"Isso nos dá a impressão de que as lideranças turcas estão deliberadamente levando as relações entre os dois países a um impasse", afirmou.

Na terça, o russo havia classificado de "punhalada nas costas" o episódio.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, descartou o pedido de desculpas e afirmou que seu governo repetiria a atitude no caso de "mesma violação" do espaço aéreo: "O país que cometeu essa violação deve tomar medidas para evitar que isso ocorra novamente", disse.

Rússia e Turquia atuam juntos num projeto de duto de gás conhecido como TurkStream, em que os russos devem fornecer gás por meio do mar Negro.

Editoria de arte/Folhapress

Além disso, mantêm um acordo para construção de usina nuclear em território turco no valor de US$ 20 bilhões. Em seu discurso, Medvedev ameaçou congelar projetos como esses.

O presidente Erdogan esteve em Moscou há dois meses, quando reuniu-se com Putin. Ambos líderes ainda se encontraram novamente no dia 16 passado, na reunião do G20, em Antália (Turquia).

Ao adotar um discurso público de repulsa à derrubada do caça, Putin tenta manter fortalecida sua contestada decisão de atuar militarmente na Síria.

Recentemente, sua intervenção para combater o EI foi criticada após a queda de um voo comercial russo com 224 pessoas a bordo no Egito, possivelmente por uma bomba plantada por extremistas ligados ao Estado Islâmico.

A facção reivindicou o ataque como retaliação à ação em território sírio.

Se uma resposta militar à Turquia parece um certo exagero neste momento, a exigência de um pedido de desculpas a Ancara e a ameaça de punição econômica têm sido até agora a estratégia política de Putin para não enfraquecer sua polêmica posição de se alinhar ao regime de Assad.


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