Folha de S. Paulo


Visão romântica da guerra leva jovens mulheres à milícia Estado Islâmico

Internet como meio, casamento como promessa e guerra como objetivo.

O terrorismo islâmico feminino é um fenômeno em plena expansão e tem atraído cada vez mais mulheres na Europa.

A radicalização ultrarrápida dessas jovens, entre 14 e 25 anos, é feita com os mesmos métodos de recrutamento das seitas religiosas.

Blogs e tuítes, aparentemente escritos por europeias casadas com combatentes, tentam persuadir suas "irmãs" no Ocidente das "alegrias" da vida de guerrilheira e da "honra" de dar à luz e educar mujahidins, os guerreiros do islã.

Recentemente, Farhad Khosrokhavar, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, estimou que "cerca de 1.000 dos 4.000 europeus que partiram para a jihad na Síria e no Iraque são mulheres".

Etienne Laurent - 25.nov.2015/Efe
Merkel, Hollande e Anne Hidalgo, prefeita de Paris, homenageiam as vítimas dos atentados
Merkel, Hollande e Anne Hidalgo, prefeita de Paris, homenageiam as vítimas dos atentados

A maioria nasceu na França e na Bélgica, mas nem sempre tem origem muçulmana. Para o Instituto para Diálogos Estratégicos, de Londres, "essas jovens acreditam que a 'oumma' –comunidade dos crentes muçulmanos– está sendo atacada e sentem obrigação ideológica e religiosa de fazer algo".

A maioria delas muda o comportamento em apenas dois meses, foge da casa dos pais e vai à Síria para se juntar ao Estado Islâmico (EI).

Não há um perfil comum. Algumas são atraídas por uma visão romântica da guerra e do casamento "guerrilheiro" e pela imagem do guerreiro viril nos vídeos do EI.

Em sua maioria, são jovens ingênuas e vulneráveis em busca de identidade. Outras, sensibilizadas pelas imagens de combate nas redes sociais, imaginam estar em uma missão humanitária.

Há as adolescentes que se juntam a extremistas por oposição aos pais ou pelo desejo de correr risco e as muçulmanas que se sentem discriminadas na Europa.

Ao chegarem à "terra santa" da guerra, muitas se arrependem. Mas, uma vez aí, não há mais retorno.

No front, o papel das mulheres é basicamente de esposa e mãe. Mas elas aprendem a manipular armas.

COMPLEMENTAR

Pela doutrina do Estado Islâmico, a mulher não é submissa ao homem, mas complementar. Entretanto, as decisões de comando nunca são confiadas a ela.

A mulher tem o direito de cometer um atentado suicida, por exemplo, para vingar a morte do marido.

Efe - 15.nov.2015/stringer
Muçulmanos da Índia participam de ato contra o Estado Islâmico em Nova Déli
Muçulmanos da Índia participam de ato contra o Estado Islâmico em Nova Déli

Os imãs dos grupos terroristas asseguram aos mártires que morrem em nome de Alá as delícias do paraíso, além das famosas 72 virgens. Mas, para as mulheres kamikazes, nada. No máximo um reencontro no paraíso com um ente querido.

Hasna Ait Boulahcen, 26, morreu após a detonação de um cinturão de explosivos em um apartamento durante uma operação policial em Saint-Denis, perto de Paris.

Prima do mentor dos ataques em Paris, Abdelhamid Abaaoud, Hasna nunca teve interesse em religião, nunca leu o Alcorão e começou a usar o véu muçulmano há apenas um mês, quando se aproximou da milícia Estado Islâmico.

Como seus planos de ir para a Síria fracassaram, ela decidiu "oferecer seus serviços para cometer os ataques terroristas em Paris", segundo a polícia francesa.

Seus ex-vizinhos garantem que "ela nem mesmo sabia dizer bom dia em árabe. Tudo o que tinha relação com o islã ela rejeitava".

Hasna era a imagem oposta do islamismo radical: aberta, extrovertida, festeira, de temperamento forte e instável. Eles se perguntam: como uma jovem assim pode se radicalizar a esse ponto?

"Durante o Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos, ela bebia vodca até ficar bêbada", contam.

As circunstâncias exatas sobre como Hasna morreu não estão ainda totalmente claras.


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