Folha de S. Paulo


'La Nación' noticia reação contrária a seu editorial pró-anistia de repressores

Um editorial do jornal "La Nación" defendendo uma anistia a repressores condenados por crimes cometidos durante o regime militar argentino (1976-83) causou forte reação entre políticos, jornalistas e leitores da publicação, de linha conservadora.

O próprio jornal voltou a manifestar-se nesta terça-feira (24), noticiando o ato de repúdio promovido pelos funcionários e dizendo que o texto reflete "exclusivamente a posição editorial do jornal, e não a de seus jornalistas".

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Jornalistas do
Jornalistas do "La Nacion" argentino se manifestam em repúdio a editorial pró-anistia do diário

O editorial, intitulado "No Más Venganza", (chega de vingança) afirmava que os julgamentos dos crimes de lesa-humanidade promovidos nos anos do kirchnerismo foram atos de "vingança" e chamava os opositores do regime militar de "terroristas". Afirmava ainda que os repressores que se encontram encarcerados, a maioria em idade avançada, estariam sendo maltratados.

O texto celebrava a eleição de um novo presidente como oportunidade para "sepultar" as "ânsias de vingança" alimentadas pelas políticas de direitos humanos de Néstor e Cristina Kirchner –que anularam indultos e estimularam investigações.

Em sua edição desta terça, o jornal pediu também desculpas à senadora Norma Morandini, que foi citada no editorial por conta de um artigo em que falava na necessidade de reconciliação na área de direitos humanos.

Morandini, que teve dois irmãos desaparecidos durante a ditadura, diz que o jornal distorceu seu pensamento. "Quando falo em reconciliar, não é com os repressores, mas sim com a sociedade. Me vi envolvida numa mentira."

O ex-chefe de gabinete do governo Cristina Kirchner, Jorge Capitanich, declarou que o editorial era "abominável". Já a deputada Victoria Donda (Progressistas) disse que os donos do jornal foram "irresponsáveis" ao comparar aqueles que morreram nos centros clandestinos aos terroristas que atacaram Paris no último dia 13. Já a presidente da associação Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, considerou o editorial "desatinado, injurioso e ofensivo", afirmando que os repressores presos são "pessoas muito perigosas, que não estão arrependidas".

Na tarde de segunda-feira (23), os jornalistas do "La Nación", realizaram um ato de repúdio em plena Redação. Soltaram um comunicado e tiraram uma foto com cartazes dizendo: "eu repudio o editorial". "Nunca vi nada parecido aqui, foi uma reação muito contundente", disse à Folha o jornalista da seção de política Jorge Liotti.

A polêmica surgiu no dia seguinte à eleição de Mauricio Macri, que deu declarações polêmicas sobre o tema dos direitos humanos, dizendo que o kirchnerismo havia criado um sistema de "currais", beneficiando grupos de direitos humanos que se alinham ao governo.

Apesar de declarar que manterá os julgamentos em curso, Macri não dá detalhes sobre o que pretende fazer com relação aos repressores presos nem se novos julgamentos terão início. O presidente eleito tem o apoio de entidades e advogados que pedem a anistia e a interrupção dos processos em curso.

A ditadura argentina causou 20 mil desaparições e mais de 500 sequestros de bebês.


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