Folha de S. Paulo


'La Nación' faz editorial pró-anistia, e jornalistas realizam ato de repúdio

Jornalistas do diário "La Nación", um dos principais da Argentina, reuniram-se nesta segunda-feira (23) para protestar contra um editorial publicado pelo próprio jornal, no dia seguinte à eleição presidencial.

O editorial, intitulado "No Más Venganza" (Chega de Vingança), pede o fim dos julgamentos de repressores durante a ditadura militar (1976-83), diz que os processos em curso são "atos de vingança" e chama os opositores do regime de "terroristas". Defende, ainda que se respeitem os direitos humanos dos mais de 600 repressores que estão presos, a maioria em idade avançada.

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Jornalistas do
Jornalistas do "La Nacion" argentino se manifestam em repúdio a editorial pró-anistia do diário

O texto celebra que a chegada ao fim do kirchnerismo possa dar início ao "sepultamento" das políticas "vingativas" de direitos humanos de Néstor e Cristina Kirchner –que anularam indultos e estimularam investigações.

A resposta dos jornalistas começou via redes sociais, e ganhou força quando os principais nomes do diário, como os jornalistas Hugo Alconada Mon e Martín Kanenguiser, passaram a postar mensagens dizendo repudiar o conteúdo do editorial.

Depois, os jornalistas se reuniram na própria Redação para uma foto, segurando cartazes que diziam "eu repudio o editorial". O ato foi acompanhado de um comunicado, divulgado por meio das redes.

"Nunca vi nada parecido aqui, foi uma reação muito contundente", disse à Folha o jornalista da seção de política, Jorge Liotti.

Nesta terça-feira (24), o "La Nación" publicará em sua edição impressa e online a reação dos jornalistas e uma resposta do próprio diário.

A polêmica surge no dia seguinte à eleição de Mauricio Macri que, nos últimos tempos, deu declarações polêmicas sobre o assunto dos direitos humanos, dizendo que o kirchnerismo criou um sistema de "currais", beneficiando grupos de direitos humanos que se alinham ao governo.

Apesar de declarar publicamente que manterá os julgamentos em curso, Macri não dá detalhes sobre o que pretende fazer com relação aos repressores presos nem se novos julgamentos terão início. O presidente eleito tem o apoio declarado de entidades e advogados que pedem a anistia, mas não os de entidades que reúnem familiares de vítimas.

Na ditadura argentina, mais de 20 mil pessoas desapareceram.


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