Folha de S. Paulo


Governo francês propõe criação de 'Febem' para jovens radicais

O governo francês vai criar uma espécie de Febem (instituição para menores infratores, atualmente chamada de Fundação Casa) para "cuidar" dos jovens muçulmanos "radicalizados". O anúncio foi feito nesta quinta-feira (19) pelo premiê, o socialista Manuel Valls, na Assembleia.

Até o fim do ano será criada uma "estrutura" de reeducação, um "centro de desradicalização". Os internos serão admitidos com aprovação da Justiça; não serão aceitos jovens que tenham passado por países como Síria ou Iraque, que irão para a prisão.

Valls não deu mais informações sobre essa espécie de reformatório, uma das medidas de um pacote da atitude agora mais dura do governo com possíveis terroristas.

Nesta quinta, por exemplo, a nova lei do estado de emergência, que vai vigorar por mais três meses, foi aprovada por 551 deputados; três ecologistas e três socialistas votaram contra (a Assembleia tem 577 cadeiras).

O Senado também deve dar seu aval nesta sexta (20).

Em resumo, trata-se de uma lei de exceção moderada, que dá mais poderes de polícia a autoridades como o ministro do Interior, chefe da polícia, e permite a policiais fazer investigações e batidas sem autorização judicial.

O estado de emergência vai valer em todo o território francês pela primeira vez desde 1961, na crise da independência da Argélia, quando houve mesmo ameaça de golpe militar na França.

O Executivo pode determinar prisão domiciliar (ou outro local à escolha) para quem pareça ameaçar a ordem pública e exigir o uso de pulseiras eletrônicas de vigilância.

Podem baixar toque de recolher e dissolver associações que ameacem a segurança —com o que se pretende facilitar o fechamento de mesquitas salafistas (fundamentalistas) radicais.

Uma emenda dos deputados permitirá a autoridades do Executivo tomar medidas para fechar ou bloquear sites e redes sociais ligados à execução, promoção ou apologia de atos de terrorismo.

Os policiais poderão usar armas fora do horário de serviço, desde que avisem os superiores e usem braçadeiras com o aviso "polícia".

Vários policiais franceses, afora a polícia militar e de choque, nem usam armas de fogo no patrulhamento.

ARMAS QUÍMICAS

No discurso, Valls também afirmou de passagem que "não descarta" a possibilidade de ataques terroristas com armas químicas e biológicas, embora tenha enfatizado que afirmava tal coisa com "a precaução necessária".

Durante o dia, especialistas em armas químicas apareceram na TV dizendo que tal ataque é "improvável", embora a facção Estado Islâmico disponha de gás mostarda, usado em na Síria.

Segundo os especialistas, faltaria tecnologia para o Estado Islâmico transformar seu estoque de gás em armas eficientes e que pudessem ser carregadas Europa.

Depois das críticas, em entrevista à TV France 2, de noite, Valls disse que não queria "assustar os franceses" e que não tinha indícios da existência de planos de ataques desse tipo, mas que a população deve estar preparada para uma "guerra muito longa".

O premiê afirmou que a perseguição de terroristas continua e que "há informações de que novos ataques estão sendo preparados".

PRECE CANCELADA

A Grande Mesquita de Paris cancelou a oração solene dos muçulmanos pelas vítimas dos atentados. Segundo os responsáveis pela mesquita, conversas com a chefia de Polícia deixaram claro que não havia condições de segurança para a cerimônia, marcada para esta sexta.


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