Às armas, cidadãos? Os atentados da última sexta (13) em Paris provocaram um aumento sensível na venda de artefatos de defesa pessoal, principalmente de spray de pimenta, e na busca por informações sobre compra e porte de armas de fogo. Houve ainda quem perguntasse sobre coletes à prova de bala para uso no metrô da cidade.
Os relatos são de comerciantes ouvidos pela reportagem, que esteve na tarde desta quarta-feira (18) em cinco estabelecimentos do gênero, localizados em três distritos diferentes da capital.
Perto da gare de l'Est (no nordeste da cidade), a vitrine de uma loja oferece armas de gás comprimido sob os disfarces de rímel (€ 19, equivalentes a R$ 76) ou de caneta (€ 23, ou R$ 92).
"Na segunda (16) e na terça (17), a procura foi cerca de 20% acima da habitual", diz o funcionário Stéphane Brusson, acrescentando ter recebido muitos clientes na faixa dos 60 anos. "Eles vêm pedir informações sobre porte, querem saber o que é liberado."
A legislação francesa que rege essa matéria é bastante restritiva. Só três categorias de pessoas podem possuir armas: agentes de forças de ordem, praticantes de tiro esportivo e caçadores.
Em 2013, havia cerca de 160 mil inscritos na federação francesa de tiro, e 1,4 milhão de pessoas detinham licença para caçar no país. Ambos devem se submeter regularmente a testes psicológicos.
Segundo o jornal "20 Minutes", obter uma permissão para porte de arma na região de Ile-de-France, onde fica Paris, leva ao menos um ano.
Os comerciantes afirmam que o pico de interesse por artefatos de gás comprimido repete a oscilação verificada nos dias após o ataque ao "Charlie Hebdo" e a um mercado kosher, em janeiro.
O gerente de uma loja ao lado da praça da Bastilha (no 11º distrito) lembra que, naquela ocasião, judeus temerosos de novas investidas de extremistas islâmicos buscaram aerossóis de defesa e porretes.
COLETE
Desta vez, além de vender sprays de pimenta, o dono de um estabelecimento na região da antiga Bolsa de Paris (no 2º distrito) deparou com um cliente que pretendia comprar um colete a prova de balas para andar de metrô pela cidade.
"Trata-se de uma peça de sete, oito quilos, que é visível através da roupa. Disse a ele que a polícia o pararia a toda hora para ver o que era aquilo", conta Yves Gollety.
Ele também preside a câmara sindical das lojas de armas da Europa e teme o endurecimento, pós-atentados, das leis referentes a compra e porte das mesmas. "Sempre sobra para nós."
O colecionador de artefatos e praticante de tiro esportivo Vincent Gaiffe faz coro:
"Fuzis históricos da Segunda Guerra, que já haviam sido liberados para compra [por quem detém licença], talvez sejam novamente proscritos. Não é o fato de tornar a legislação mais severa que vai impedir o tráfico de armas, a chegada delas às mãos dos terroristas".
Uma das lojas visitadas pela reportagem fica no bulevar Voltaire, em que está a casa de shows de Bataclan –cenário do maior ataque de sexta passada, com 89 mortos.
Os funcionários não quiseram conceder entrevista, mas disseram que o movimento caiu nos últimos dias. Foi o único dos cinco estabelecimentos percorridos a dar essa informação.