Folha de S. Paulo


'Vocês não terão meu ódio', escreve francês a assassinos de sua mulher

Na segunda (16), o francês Antoine Leiris escreveu uma carta aos terroristas que mataram sua mulher, Helene Muyal-Leiris, 35, durante a série de atentados em Paris na última sexta. Publicado em sua página no Facebook, o texto diz que "responder ao ódio com cólera seria ceder à mesma ignorância que fez de vocês o que vocês são".

A publicação ainda menciona Melvil, filho de 17 meses do casal: "Ele vai tomar seu lanche, como todos os dias, depois vamos brincar, como todos os dias, e durante toda sua vida esse garotinho lhes fará a afronta de ser feliz e livre. Porque vocês não terão o ódio dele, tampouco".

Bataclan - Minuto a minuto

Helene foi morta no Bataclan, casa de shows parisiense, onde outras 88 pessoas foram assassinadas. Até o momento, a carta já foi compartilhada mais de 194 mil vezes na rede social. Leia abaixo a íntegra do texto.

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'Vocês não terão meu ódio'

"Na noite de sexta vocês roubaram a vida de um ser excepcional, o amor de minha vida, a mãe de meu filho, mas vocês não receberão meu ódio. Não sei quem vocês são e não quero saber, vocês são almas mortas.

Se esse Deus por quem vocês matam cegamente nos criou em sua imagem, cada bala no corpo de minha mulher deve ter sido uma ferida no coração dele. Por isso eu não vou lhes dar o presente de odiá-los. Bem que vocês se esforçaram para isso, mas responder ao ódio com cólera seria ceder à mesma ignorância que fez de vocês o que vocês são. Vocês querem que eu tenha medo, que eu olhe meus concidadãos com desconfiança, que eu sacrifique minha liberdade pela segurança. Perderam. O mesmo jogador ainda está jogando.

Eu a vi hoje de manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Ela estava tão bela quanto quando foi embora, na noite de sexta, tão bela quanto era quando me apaixonei perdidamente por ela, há mais de 12 anos. É claro que estou arrasado de dor —concedo a vocês essa pequena vitória, mas ela terá curta duração. Sei que ela nos acompanhará todos os dias e que nós nos reencontraremos nesse paraíso das almas livres ao qual vocês jamais terão acesso.

Somos dois, meu filho e eu, mas somos mais fortes que todos os exércitos do mundo. Aliás, não tenho mais tempo para dedicar a vocês —tenho que cuidar de Melvil, que está acordando da soneca. Ele tem apenas 17 meses. Ele vai tomar seu lanche, como todos os dias, depois vamos brincar, como todos os dias, e durante toda sua vida esse garotinho lhes fará a afronta de ser feliz e livre. Porque não, vocês não terão o ódio dele, tampouco."

Tradução de Clara Allain


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