Folha de S. Paulo


Nos hospitais de Paris, vítimas tratam sequelas 'físicas e psicológicas'

Três dias após os atentados que deixaram ao menos 129 mortos e 350 feridos, a grande movimentação de familiares desesperados nos hospitais de Paris em busca de notícias das vítimas foi substituída por um clima de aparente tranquilidade.

Nas instituições mais próximas a locais atacados, que viraram uma espécie de ponto de peregrinação de milhares de pessoas em homenagem às vítimas, as calçadas foram tomadas por flores, velas, e mensagens de apoio.

É o que ocorre no hospital Saint-Louis, em que a entrada de doadores de sangue voluntários divide espaço com franceses e turistas que prestam homenagens silenciosas em frente a dois restaurantes onde 15 pessoas morreram próximo ao canal Saint-Martin.

Os prontos socorros já voltaram a atender pacientes com enfermidades de rotina, parte das vítimas que tiveram ferimentos menos graves tiveram alta.

Mas o horror daquela noite ainda esta longe de acabar. A tarefa dos médicos agora é tratar das sequelas dos pacientes mais graves e explicar a eles que os traumas permanecerão.

"Será preciso fazer uma gestão muito específica desses pacientes. As sequelas não são só físicas, são também psicológicas. O estresse que eles vivenciaram é de um nível inimaginável", disse Jacques Duranteau, anestesista do hospital Kremlin-Bicêtre.

Muitos terão de enfrentar um longo tratamento, como ocorreu com o jornalista Philippe Lançon, sobrevivente do atentado à sede do semanário satírico "Charlie Hebdo" em janeiro. Ele já passou por 13 intervenções cirúrgicas desde então.

Alguns perderam membros, e a maioria foi ferida por balas de grande calibre das armas usadas pelo terroristas.

"Foram cenas de guerra", disse Philippe Juvin, chefe de emergência do hospital Georges Pompidou, que já atuou em zonas de conflito como o Afeganistão.

Ao terror dos pacientes na noite de sexta-feira se somava a movimentação de pessoas que sabiam que seus amigos e familiares estavam nos locais atacados, mas não tinham informação de que estavam vivos ou mortos, disse à Folha um dos médicos que participou da emergência.

"Eles passavam de hospital em hospital, mas algumas das vítimas nem sequer tinham entrado nas ambulâncias, muitas já estavam mortas", disse.

Dentre os feridos, aproximadamente cem foram atendidos em estado de emergência absoluta quando foi acionado o dispositivo de de mobilização máxima para situações de urgência em todos os hospitais.


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