Folha de S. Paulo


França terá de mudar combate ao terror após ataques em Paris

A França terá que mudar de estratégia no combate ao terrorismo. Essa é a avaliação de Fréderic Gallois, ex-chefe do GIGN (grupo de operações especiais da policia francesa), em entrevista à Folha.

A avaliação é compartilhada por políticos da oposição ao governo francês, como o ex-presidente da França Nicolas Sarkozy e a líder da Frente Nacional, sigla de extrema direita, Marine Le Pen.

"O modo de operação dos terroristas já era conhecido. Sabíamos como eles iriam agir, mas o que era o fator surpresa era a data exata e o local desses ataques. Por isso, daqui para a frente, devemos adotar uma estratégia abrangente que inclua não apenas as forças do governo, mas também as empresas privadas de segurança e a sociedade civil", afirma Gallois.

O especialista diz que, se agentes de segurança pudessem portar armas, poderiam arcar com a vigilância de prédios e deixar polícia e Exército livres para ações antiterror.

Quanto à sociedade civil, o analista disse que é preciso agir "com tato", mas sem "fechar os olhos para o fato de que a ameaça terrorista está ligada a movimentos extremistas islâmicos", enfatizou.

"Claro que sabemos que 99% da comunidade muçulmana não tem nada a ver com o terrorismo. No entanto, é notório que esses terroristas são oriundos da comunidade muçulmana. É preciso que a população como um todo fique vigilante", disse.

Em discurso na TV, o ex-presidente da França Nicolas Sarkozy falou em "guerra total" contra o terrorismo.

"Nossa política externa tem que considerar que estamos em guerra. Nossa política de segurança interna também necessita de mudanças importantes para que a segurança dos franceses seja garantida", avaliou Sarkozy.

Já Le Pen disse ser "indispensável que a França retome o controle das suas fronteiras definitivamente".

RISCO NAS FRONTEIRAS

O estado de emergência decretado no país na sexta-feira pelo presidente François Hollande inclui poderes especiais para que a policia faça ações de busca e apreensão e detenha suspeitos.

"Isso vai facilitar as investigações dos ataques e a prevenção de novos atentados. Mas, como o estado de urgência não pode ser mantido indefinidamente, é preciso pensar em de assegurar juridicamente a manutenção desse dispositivo", diz Gallois.

Outro ponto de fragilidade da política francesa antiterror é a questão das fronteiras. Na sexta (13), antes dos atentados, o governo estabelecera um controle nas fronteiras do país, com o objetivo de reforçar a segurança antes do início da COP 21, cúpula mundial sobre o clima que começa no dia 30 de novembro.

Após os atentados, Hollande chegou a falar em "fechamento das fronteiras", mas comunicado do Eliseu retificou as palavras do presidente e falou em "controle das fronteiras". "Essa talvez tenha sido a principal falha. Esse reforço já deveria ter sido adotado desde os atentados de janeiro", pondera Gallois.


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