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Terrorista era reservado e gostava de futebol, dizem conhecidos

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O francês Ismael Omar Mostefai, 29, era um jovem reservado, religioso e que gostava de jogar futebol semanalmente na cidade de Chartres, a 100 km de Paris. Viveu com os pais e quatro irmãos num pequeno sobrado no bairro Le Madeleine até 2012.

Não tinha emprego fixo e chegou a trabalhar numa padaria. Nas palavras de um antigo vizinho, ele fazia bicos, "pegava o que aparecia".

Ganhou fama de delinquente, problemático, após ser detido por leves infrações, como dirigir sem carteira, algumas brigas e porte pequeno de droga. Nada além disso.

Leandro Colon/Folhapress
A cinco quilômetros de Chartres, a casa onde Ismael Omar Mostefai viveu com a família
A cinco quilômetros de Chartres, a casa onde Ismael Omar Mostefai viveu com a família

Mostefai foi identificado, pelas digitais, como um dos três terroristas que mataram 89 pessoas na casa de shows Bataclan, em Paris, do total de ao menos 129 que perderam a vida nos ataques da sexta (13). Suicidou-se em seguida.

Ele nasceu em Courcouronnes, arredores de Paris, no dia 21 de novembro de 1985. Seria filho de mãe portuguesa e pai argelino, segundo vizinhos -algo não confirmado ainda oficialmente.

"Não temos informação sobre quando exatamente se mudaram para Chartres. Sei que ele morou aqui com os pais, dois irmãos e duas irmãs até 2012. Naquele ano, todos foram embora", disse à Folha Jean-Pierre Gorges, prefeito de Chartres.

"A grande questão é saber o que ocorreu com ele de 2012 até sexta", acrescentou Gorges.

O prefeito confirmou que, no período em que viveu na cidade, o jovem foi detido e condenado por pequenos delitos, mas sem necessidade de cumprir pena na cadeia.

Gorges ainda criticou o governo francês por não tomar providências para evitar a radicalização de jovens islâmicos. "Algo tem de ser feito para controlar isso", disse.

Leandro Colon/Folhapress
Lideranças da mesquita de Chartres, frequentada por Mostefai, buscam se desvincular do terrorista
Lideranças da mesquita de Chartres, frequentada por Mostefai, buscam se desvincular do terrorista

RADICALISMO

O ano crucial para a mudança de comportamento de Mostefai teria sido, na verdade, 2010, quando as autoridades passaram a monitorá-lo por vínculos com radicalismo religioso -nunca houve, porém, investigação sobre ligações com células terroristas.

As primeiras investigações apontam que, entre 2013 e 2014, Mostefai teria passado alguns meses na Síria, por onde entrou via Turquia.

Interrogado pela polícia após os atentados, um dos irmãos disse estar surpreso e alegou que a família perdera o contato com Mostefai fazia alguns anos.

O pai, que vive na cidade de Romilly-sur-Seine, foi posto em custódia e afirmou que, sem muito contato, soubera que o filho havia se mudado com a filha e a mulher para a Argélia.

Os investigadores suspeitam que, nesse período de "sumiço", Mostefai tenha mantido vínculos com grupos terroristas na Bélgica, país apontado como um dos focos de planejamento dos atentados de sexta em Paris.

Os jornais franceses e o prefeito de Chartres informaram que Mostefai era frequentador de uma mesquita na região, próxima da cidade de Lucé.

Não deu outra: no domingo (15) pela manhã, dezenas de veículos de mídia locais e estrangeiros, entre eles a Folha, foram para o local.

Uma entrevista coletiva foi convocada. Em árabe, o imã (chefe da mesquita) Brahim Elghoul fez um discurso em homenagem às vítimas dos atentados. O seu antecessor teria sido afastado do posto após ter o visto cancelado por causa de uma viagem suspeita ao Paquistão.

Num comunicado tumultuado, Elghoul e assessores, que dirigem o espaço religioso desde 2012, afirmaram que jamais viram Ismael Mostefai.

"Não lembro dele, frequento há anos. Eu nunca o vi aqui", reforçou à reportagem Ismael Snussi, 35, auxiliar do chefe da mesquita.

Apesar do discurso, eles não puderam garantir que o terrorista de sexta não frequentou a mesquita antes disso, ou seja, justamente no período em que vivia com a família na cidade francesa.


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