Folha de S. Paulo


Estados Unidos e Rússia entram em acordo sobre transição política na Síria

Ao passo que os presidentes da França e dos EUA reforçaram a aliança para combater o terrorismo após os ataques a Paris, diplomatas de ambos os países, da Rússia e outros sugeriram que a transição política na Síria comece em 2016 sob supervisão da ONU e com participação do ditador Bashar al-Assad.

Em comunicado, a Casa Branca relatou que Barack Obama e François Hollande conversaram por telefone horas após os atentados e "se comprometeram a trabalhar juntos e com nações ao redor do mundo para derrotar o flagelo do terrorismo".

Em encontro neste sábado (14), em Viena, que já estava agendado antes dos ataques de sexta na França, para tratar do conflito na Síria, o grupo de representantes de 20 países reconheceu a urgência da transição política para conter a falta de estabilidade que tem levado à expansão de facções extremistas.

O enviado da ONU à Síria, Staffan de Mistura, começará imediatamente a mediar o diálogo para definir quem estará nas negociações entre o governo do ditador Bashar al-Assad e a oposição a partir de 1° de janeiro.
No encontro, sugeriu-se que, assegurado um cessar-fogo, em seis meses, as partes deveriam elaborar uma nova Constituição que regeria eleições em 18 meses.

A participação do ditador sírio na transição é motivo de divergência, especialmente quanto a sua eventual candidatura. Os EUA, antes contrários a qualquer negociação com Assad, passaram a moderar exigências após a ofensiva militar russa no país.

"Fomos informados por nossos parceiros de que ele [Assad] está preparado para agir seriamente, para mandar uma delegação, para participar de uma negociação real", declarou o secretário de Estado americano, John Kerry, no encontro.

A Arábia Saudita apoia a transição desde que resulte na saída de Assad. Do contrário, defende sua retirada à força. Rússia e Irã rechaçam a interferência externa.

"Para os russos, o que importa é a manutenção da estrutura do regime pró-Moscou", afirma Hussein Kalout, pesquisador da Universidade Harvard (EUA)
.
O chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou que esperava que a reunião permitisse avanços. "Sinto que há um reconhecimento crescente da necessidade de criar uma coalizão internacional para enfrentar o Estado Islâmico", disse ele. "Não há justificativa para atos terroristas nem para não fazermos mais para derrotar o Estado Islâmico, a Frente Al-Nusra e similares."

Para Kalout, o sucesso da estratégia depende da disposição dos atores regionais (Irã Turquia e Arábia Saudita) e da Rússia e EUA de fazerem concessões.

DILMA E PAPA

Em mensagem de solidariedade enviada a Hollande, a presidente Dilma Rousseff afirmou estar certa de que a nação francesa sairá "mais forte e coesa" deste momento. "Hoje, somos todos franceses", disse Dilma, que está na Turquia para a reunião de cúpula do G20.

O papa Francisco se disse entristecido. "Essas coisas são muito difíceis de entender. Foram seres humanos que fizeram isso."


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