Folha de S. Paulo


Obama e Netanyahu tentam superar diferenças após meses de afastamento

Após mais de um ano de distanciamento, o presidente americano, Barack Obama, declarou intenção de superar diferenças com Israel em relação ao Irã e retomar negociações de paz no Oriente Médio.

No primeiro encontro em 13 meses, realizado nesta segunda-feira (9), na Casa Branca, Obama e o premiê Binyamin Netanyahu anunciariam que discutiriam o acirramento de tensão entre palestinos e israelenses, o acordo com o Irã, a guerra na Síria e possivelmente o aumento nos repasses de ajuda militar dos EUA a Israel.

Sobre o acordo com o Irã, que Netanyahu chamou de "erro histórico" meses atrás, Obama disse: "Não é segredo que eu e o premiê tivemos fortes diferenças nessa questão específica [acordo nuclear], mas não discordamos sobre a necessidade de garantir que o Irã não obtenha uma arma atômica".

Sugerindo que aquilo que une EUA e Israel nessa questão é mais forte do que as divergências, o líder americano também afirmou que os dois concordam com a importância de mitigar e desestabilizar eventuais atividades atômicas que estejam em curso no Irã. "Então avaliaremos como encontrar um meio-termo nesse assunto."

O pacto prevê a retirada de sanções impostas por potências ocidentais em troca de limites ao programa nuclear do país persa.

No pronunciamento conjunto antes da reunião, o israelense manteve o tom assertivo ao dizer que o país vem sendo "testado pela instabilidade e insegurança" no Oriente Médio.

"Todo o mundo pode ver a selvageria do Estado Islâmico, a agressão e o terror de aliados do Irã e do próprio Irã. A combinação de turbulências tem desabrigado milhões de pessoas e massacrado centenas de milhares. E não sabemos o que vai acontecer", disse Netanyahu.

Netanyahu, porém, acrescentou: "Ninguém deve duvidar da determinação de Israel de se defender nem de genuinamente procurar paz".

Obama afirmou que "não é segredo" que a segurança no Oriente Médio "se deteriorou".

"Vou discutir com o primeiro-ministro seus pensamentos sobre como diminuir a temperatura entre israelenses e palestinos, como podemos retomar o caminho da paz e como podemos assegurar que aspirações palestinas legítimas se realizem por meio de um processo político, assim como garantindo a capacidade de Israel de se proteger", disse o americano.

Em sua fala, o premiê repetiu o discurso em defesa de "dois Estados, dois povos". Celebrou a "oportunidade de trabalhar juntamente" com Obama, a quem agradeceu por "fortalecer a aliança" entre os dois países.

O encontro acontece após meses de discordâncias públicas e gestos de aproximação do premiê com o Partido Republicano, que faz oposição a Obama.

O americano condenou a violência de palestinos contra cidadãos israelenses e defendeu "o direito e a obrigação" de Israel de se proteger.

DESPRETENSÃO

Pesquisador do centro de estudos Council on Foreign Relations, Eliott Abrams disse que o encontro foi mais despretensioso que os anteriores, porque ambos reconheceram derrotas e, portanto, tinham menos ambições –o que não necessariamente é ruim.

"Eles podem achar um meio-termo, porque superaram duas grandes brigas: o acordo com o Irã [fechado a despeito da oposição de Netanyahu] e o esforço de Obama por um acordo de paz abrangente entre Israel e a Palestina. Obama disse que o acordo não acontecerá, então os dois têm menos a discutir", disse o pesquisador.

Na observação de Abrams, ambos os líderes tentaram parecer amigáveis para evitar fornecer munição às respectivas oposições, que poderiam acusá-los de "estragar" as relações entre EUA e Israel.

Agora, sugeriu o pesquisador, eles podem debater "como interromper a onda de violência, como melhorar a economia palestina e como aumentar a ajuda militar dos EUA a Israel".


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