Folha de S. Paulo


Combatentes teriam usado gás mostarda na Síria, indica relatório

Xinhua/Ammar
 Estudantes sírios se dirigem à escola em meio a escombros no distrito de Barzeh, em Damasco (jp) (ah)
Estudantes sírios se dirigem à escola em meio a escombros no distrito de Barzeh, em Damasco

Um relatório da Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq) revela que foi usado gás mostarda no norte da Síria durante um confronto entre rebeldes moderados e o Estado Islâmico em 21 de agosto.

Esta é a primeira vez que a organização detecta o uso do agente químico no país desde que o regime do ditador Bashar al-Assad entregou todas as armas químicas que afirmava ter em mãos, em junho do ano passado.

No documento confidencial, publicado em 29 de outubro, a organização afirma que duas pessoas teriam sido expostas ao agente químico na cidade de Marea. Dentre eles, um bebê que morreu no hospital.

A Opaq não menciona as forças envolvidas no combate. Porém, ativistas sírios e diplomatas de países vizinhos afirmam que neste dia ocorreu um enfrentamento entre rebeldes apoiados pelos EUA e a Europa e o Estado Islâmico.

O grupo opositor Observatório Sírio de Direitos Humanos, sediado em Londres, culpa a milícia radical. De acordo com a entidade, as bombas com o gás mostarda foram disparados do leste de Marea, dominado pela facção.

Também não há informações sobre de onde vieram as armas químicas, mas a Opaq tem duas hipóteses. A primeira é que o gás mostarda tenha sido roubado do arsenal do regime antes da entrega à organização.

A segunda, e considerada mais preocupante pelo órgão, é que o Estado Islâmico tenha dominado a tecnologia para construírem as armas, com informações obtidas de dentro do regime sírio ou do iraquiano Saddam Hussein.

SEGUNDO ATAQUE

Se confirmada a autoria do Estado Islâmico, será o segundo ataque químico conhecido com envolvimento da milícia. O primeiro registrado foi contra combatentes curdos em Irbil, no norte do Iraque, em agosto.

Na ocasião, "traços" de gás mostarda foram encontrados em amostras de sangue de 35 soldados. O uso de agentes químicos viola resoluções do Conselho de Segurança da ONU e a Convenção de Armas Químicas, de 1997.

A organização também relata uso de gás cloro entre março e maio em uma região controlada por rebeldes em Idlib, no oeste sírio. Desta vez, moradores dizem que a arma foi disparada de helicópteros do regime de Bashar al-Assad.

Em relatório à Opaq, o ditador declarou ter 1.300 toneladas de armas químicas. O país concordou em se desfazer do armamento em 2013, após mais de mil pessoas morrerem em um ataque com gás sarin na periferia de Damasco.

A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Emily Home, afirmou que o país está muito preocupado com o documento da Opaq e continua a investigar de perto as acusações sobre o uso de armas químicas.


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