Folha de S. Paulo


Manutenção do ditador sírio no poder não é crucial, diz porta-voz da Rússia

Em um aparente esforço para criar condições para conversas de paz sobre a crise na Síria, uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse, nesta terça-feira (3), que Moscou não considera uma questão de princípios a manutenção do ditador sírio, Bashar al-Assad, no poder.

Questionada se, para Moscou, seria crucial que Assad permanecesse no cargo, Maria Zakharova afirmou à rádio Ekho Moskvy: "de jeito nenhum, nunca dissemos isso". "O que dissemos é que uma mudança de regime na Síria pode se tornar uma catástrofe local ou até regional", disse. "Apenas o povo sírio pode decidir o futuro do presidente."

Mais tarde, Zakharova disse que "a posição da Rússia para resolver a [crise] na Síria não mudou", segundo a agência de notícias TASS.

Alexei Druzhinin-20.out.2015/RIA Novosti/Kremlin/Reuters
O ditador sírio Bashar al-Assad e presidente russo, Vladimir Putin, cumprimentam-se em Moscou, nesta quarta-feira
O ditador sírio, Bashar al-Assad, e o presidente russo, Vladimir Putin, cumprimentam-se em Moscou

A Rússia é considerada o aliado mais forte de Assad e já havia rejeitado propostas do Ocidente sobre a deposição do ditador sírio.

A declaração de Zakharova parece apontar que a Rússia diverge da posição do Irã, outro importante aliado do regime sírio, sobre a manutenção de Assad no poder.

Na segunda-feira (2), o chefe da Guarda Revolucionária do Irã, o general Mohammad Ali Jafari, disse que a Rússia "pode não se importar tanto quanto nós se Assad permanecerá no poder", segundo a agência de notícias Tasnim.

"Não conhecemos ninguém melhor para substituir [Assad]", acrescentou Jafari.

Em visita ao Irã nesta terça-feira, o vice-ministro da Economia sírio, Faisal Mekdad, rejeitou a proposta do Ocidente de um "período de transição" na Síria que leve à queda de Assad.

Mekdad disse que a população síria votou a favor da permanência de Assad em 2014, demonstrando não haver alternativas à sua liderança.

A eleição realizada no ano passado, a primeira na história da Síria, teve sua credibilidade contestada.

NEGOCIAÇÕES

Também nesta terça-feira, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Bogdanov, disse a agências de notícias russas que Moscou planeja sediar uma rodada de conversas entre autoridades sírias e líderes da oposição na próxima semana.

Bogdanov afirmou que o regime sírio concordou em participar, mas não estão definidos quais grupos da oposição devem comparecer. Ele não deu uma data específica para as conversas.

Espera-se que a proposta seja discutida na quarta-feira (4), em um encontro entre o chanceler russo, Sergei Lavrov, e o enviado especial das Nações Unidas à Síria, Staffan de Mistura, segundo Bogdanov.

Em setembro, a Rússia começou a conduzir ataques aéreos contra posições da facção radical Estado Islâmico (EI) na Síria a pedido de Assad.

Assad fez uma visita surpresa a Moscou há cerca de duas semanas, onde agradeceu ao presidente russo, Vladimir Putin, pela campanha de bombardeios. O encontro foi visto como um sinal de que a Rússia, em última análise, busca um pacto político para pôr fim ao conflito sírio, embora os termos do acordo estejam pouco definidos.

Na semana passada, diplomatas de potências regionais e mundiais se reuniram em Viena para negociar uma solução para o conflito na Síria. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse que o encontro foi "produtivo".

Iniciada em março de 2011 no contexto da Primavera Árabe, a guerra na Síria já deixou mais de 250 mil mortos e 1 milhão de feridos. Além disso, o conflito forçou o deslocamento de 11 milhões de pessoas, quase metade da população síria. Destes, 4 milhões fugiram para outros países, agravando a crise de refugiados na Europa.

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