Folha de S. Paulo


Eleição local dá força a presidente em diálogo entre Farc e Colômbia

Os colombianos votaram neste domingo (26) com a cabeça em preocupações locais, mas o resultado das eleições para prefeito, vereador e governador fortalece o presidente Juan Manuel Santos em seu empenho para obter um acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Embora cerca de metade da população se declare cética em relação ao diálogo com a guerrilha, os eleitores consagraram vitória cruciais para a coalizão governista e impuseram derrota humilhante à extrema-direita oposta às negociações.

Alejandro Ernesto/Efe
O presidente Santos, o ditador cubano, Raúl Castro, e Timochenko (Farc) cumprimentam-se em Havana
O presidente Santos, o ditador cubano, Raúl Castro, e Timochenko (Farc) cumprimentam-se em Havana

A coalizão Unidade Nacional, liderada pelo presidente Santos arrematou 28 dos 32 departamentos (Estados), alguns dos quais foram diretamente afetados pelo conflito entre Exército e guerrilha, que se arrasta há quatro décadas.

"A aposta do governo e dos partidos da Unidade Nacional era ter governantes amigos da negociação que permitam melhor execução e materialização dos acordos de Havana", escreveu o colunista Oscar Montes, do "El Heraldo".

Montes se refere ao compromisso assumido por Santos e pelas Farc, sob mediação de Cuba, de se obter um acordo de paz no primeiro semestre de 2016. Um pré-acordo anunciado no mês passado pavimentou o caminho rumo a um tribunal especial para julgar responsáveis por atrocidades. Ainda estão sendo negociados temas sensíveis como perdão e reparação às vítimas.

Um dos maiores entraves às negociações vinha do ex-presidente Alvaro Uribe (2002-2010), que milita pelo uso contínuo da força contra a guerrilha e aposta no ressentimento e no trauma de milhões de colombianos para insuflar a opinião pública contra Santos.

O partido de Uribe, porém, perdeu todos os principais departamentos e municípios que disputava.

"É um golpe duríssimo contra Uribe. Ninguém imaginava que ele poderia ir tão mal", disse à Folha o analista Andres Mejía Vergnaud.

Outro analista, o jurista Ramiro Bejarano, disse que os colombianos "votaram pela paz."

No domingo (26), boa parte da imprensa pontuava como Santos havia marcado pontos ao supervisionar um pleito –o primeiro desde o início das conversas com a guerrilha, há três anos– predominantemente pacífico.

O único incidente grave tinha ocorrido no departamento de Antioquia, com a morte de um soldado pelo Exército de Liberação Nacional (ELN), guerrilha que ainda não participa formalmente de conversas de paz.

No entanto, nesta segunda (27), rebeldes do ELN fizeram uma emboscada com bombas e tiros em Güicán (Boyacá) e mataram 11 soldados e um policial. As Forças de Segurança transportavam cédulas de votação de uma reserva indígena para contagem.

De acordo com o ministro da Defesa, Luis Carlos Villegas, outros três soldados ficaram feridos e seis pessoas, entre militares e civis, estão desaparecidos.

VICE E RIVAL

Uma nuance importante, porém, marca o sucesso da coalizão governista. Quem leva o maior crédito na eleição deste domingo não é Santos, mas seu vice-presidente, Germán Vargas Lleras, com quem mantém relações dúbias.

Provável candidato em voo próprio na eleição presidencial de 2018, na qual Santos não poderá concorrer por já ter emendado mandato, Vargas Lleras conseguiu transformar seu partido, Cambio Radical, no grande vencedor da eleição no nível municipal.

O Cambio Radical faturou três das maiores prefeituras do país: Cali, Barranquilla e a capital Bogotá, onde a esquerda, no poder havia 12 anos, perdeu sua última grande vitrine nacional.

Apesar de ser o número dois na escala do Executivo, Vargas Lleras, tido como próximo dos militares, não deixou clara sua posição sobre o processo de paz.

"É um silêncio estratégico que lhe permitirá sair por cima tanto em caso de sucesso como de fracasso no diálogo", diz Mejía Vergnaud.


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