Folha de S. Paulo


Papa não consegue avanço com bispos em temas como segundo casamento

O papa Francisco não conseguiu convencer a maioria esmagadora dos bispos reunidos em Roma a mudar as regras da igreja que proíbem católicos que se casaram novamente de receber a comunhão.

O fracasso representa um golpe significativo na esperança do pontífice em reformar a igreja e trazer fieis de volta.

Filippo Monteforte/AFP
Papa Francisco conversa com bispos após sessão do sínodo sobre a família, no Vaticano
Papa Francisco conversa com bispos após sessão do sínodo sobre a família, no Vaticano

Mas, mesmo sem uma decisão clara de centenas de bispos que estão divididos sobre o tema, Francisco conseguiu convencer um número suficiente deles a reconhecer a importância do tema para lhe dar a cobertura política que ele vai precisar para buscar mudanças no futuro.

Dos cerca de 13 pequenos grupos que se reuniram no sínodo dos Bispos para discutir como a Igreja Católica deve enfrentar as mudanças na família moderna, dois se opuseram à mudança, enquanto os outros ou não chegaram a um consenso ou acreditam que é preciso mais estudo sobre o tema.

"Esta é uma discussão que era, de fato, proibida pelo Vaticano apenas alguns anos atrás", diz Austen Ivereigh, biógrafo do papa.

O sínodo se encerra neste fim de semana, depois de três semanas em que, no mais autêntico estilo do Vaticano, especulações sobre a saúde de Francisco e conspirações sobre lutas internas e esforços para minar o papa dominaram a pauta.

A publicação de uma carta secreta em que 13 cardeais criticavam abertamente a forma como o sínodo vinha sendo conduzido dominou as manchetes, já que o documento foi visto como um claro voto de não confiança no papa.

A carta foi então relegada a segundo plano após a publicação de um relatório obtido pelo jornal italiano "Quotidiano Nazionale" dizendo que o papa teve um pequeno, mas benigno tumor cerebral.

A alegação foi categórica e repetidamente negado pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. Até o final da semana, a notícia –que o editor do "Quotidiano Nazionale" sustentou apesar da insistência do Vaticano de que ela havia sido fabricada– foi vista como uma tentativa bizarra de interferir no processo do sínodo.

PROFUNDAS DIVISÕES

O encontro de três semanas expôs profundas divisões dentro da igreja e alguns possíveis pontos de acordo. Segundo Ivereigh, os participantes, em grande parte, podem ser divididos em duas categorias.

A primeira delas acredita que qualquer mudança na maneira como a igreja trata o tema dos homossexuais ou dos divorciados ameaça diluir a autoridade da igreja. Este grupo é dominado pelos bispos do Leste Europeu, da África, alguns norte-americanos e por seu representante mais vocal, o cardeal australiano George Pell.

O outro grupo, liderado principalmente por religiosos alemães, espera que o papa Francisco ajude a criar uma igreja mais inclusiva e que esteja mais em sintonia com os desafios modernos à ortodoxia da igreja.

Parece ter havido certo consenso de que a igreja precisa rever sua linguagem quando discute questões como as segundas uniões, que são consideradas adultério. Também parece ter havido consenso de que a igreja deve se concentrar mais em como prepara os fiéis para o casamento.

"O objetivo sempre foi o de chegar a uma nova estratégia pastoral que fortaleça o casamento e a família em uma cultura onde eles estão ameaçados", disse Ivereigh. "Acho que o documento vai conter essa estratégia, que parte de realidades contemporâneas ao invés de uma ideia abstrata sobre o que o mundo deveria ser."

Um dos dez prelados que irão redigir o documento final –que será votado parágrafo a parágrafo no sábado (24)– disse que o documento trará à tona muitas perguntas, mesmo que as respostas "não sejam tão claras".

"Pelo menos nós começamos a falar sobre os problemas", disse o cardeal indiano Oswald Gracias. "E começamos a dizer que eles têm de ser combatidos e estudados."


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