Folha de S. Paulo


Merkel enfrenta pressão na Alemanha por sua posição pró-refugiados

As últimas seis semanas de crise de refugiados têm mostrado a chanceler Angela Merkel inabalável em sua decisão de ter a Alemanha acomodando centenas de milhares de recém-chegados do Oriente Médio e da África. Mas por quanto tempo?

A tarefa não está ficando mais fácil. Dentro da Alemanha, políticos e o público em geral estão preocupados que a bondade possa romper sob a tensão de acomodar, alimentar, dar apoio e tratamento aos cerca de um milhão de recém-chegados este ano.

Na Europa, e mais além, Merkel até agora carece de fortes aliados para alcançar seu objetivo de apenas diminuir o fluxo de refugiados.

Na verdade, o primeiro-ministro da Húngria Viktor Orban destacou o isolamento de Merkel em relação aos líderes da Europa Central e Oriental na sexta ao fechar a fronteira de seu país com a Croácia, e assim ameaçando mais uma vez interromper a fuga de migrantes que a Alemanha deseja manter em ordem.

O movimento de Orban é apenas o mais recente de uma série de desafios que Merkel tem enfrentado nas últimas semanas. Embora muitas vezes acusada de esperar muito tempo para farejar os ventos políticos e liderar por trás, ela tem sido firme em uma série de questões em seus dez anos no cargo —inclusive durante a crise financeira grega deste ano, quando a Alemanha liderou o caminho para a imposição de controles sobre os gastos da Grécia, em troca de um terceiro resgate.

A crise dos migrantes, com suas pressões internas e externas, talvez prove ser outra questão. Mas dando terreno a alguns pontos políticos, ela tem apertado a oposição em seu próprio campo conservador.

Em Berlim, na sexta, a alta câmara do Parlamento —que inclui os governadores dos 16 Estados da Alemanha, que estiveram na linha de frente para lidar com o afluxo de migrantes— seguiu a câmara baixa e passou um novo pacote de medidas de aperto às generosas condições de asilo da Alemanha. Os legisladores cortaram dinheiro e outros benefícios dos recém-chegados e prometeram um processo mais rápido para satisfazer aqueles que estão preocupados que a generosidade da Alemanha possa ser sua ruína.

Porém todos se queixam de estarem atingindo seus limites.

"Nós temos essa pressão danada", disse Malu Dreyer, governadora Social Democrata da Renânia-Palatinado. "Temos a expectativa de que, em termos de pessoal, as coisas vão muito, muito rapidamente".

Merkel enviou seu ministro do Interior, Thomas de Maizière, que foi acusado de acordar muito tarde para a crise dos refugiados, para reafirmar aos líderes estaduais e locais que a ajuda —com fundos federais— estava à mão.

Mas algumas áreas estão se movimentando por conta própria. Duas cidades-estados, Hamburgo e Bremen, aprovaram leis que lhes dão o direito de comandar propriedades vazias para tentar dar teto aos refugiados —e não barracas— já que o inverno se aproxima.

Enquanto isso, os ataques continuam em abrigos de refugiados planejados ou já existentes —375 neste ano, incluindo 72 incêndios.

Na política nacional, a mais feroz oposição à decisão de Merkel em setembro —com a Áustria— de abrir as fronteiras para dezenas de milhares de refugiados que foram presos na Hungria vem de seu próprio campo conservador.

Sem eleições na Alemanha até a primavera, Merkel, 61, está em pequeno perigo. Ela está no cargo há quase dez anos.

A mais recente pesquisa nacional Politbarometer feita pela emissora pública ZDF em outubro mostrou que o apoio deslizou ligeiramente em razão da manipulação de Merkel da crise dos refugiados. Os resultados mostraram 46% dizendo que ela vem fazendo um bom trabalho e 48% dizendo que não.

No entanto, ela não tem nenhum rival visível em seu bloco conservador, e os Social Democrata estão em ou abaixo de 25% nas pesquisas nacionais. O primeiro teste eleitoral vem em março, com três eleições estaduais. O governo federal, em si, não terá eleições até 2017.

Merkel enfrenta seu próximo desafio ou "dever maldito", como ela dizia na semana passada, no domingo: persuadir a Turquia a evitar que os sírios cruzem o mar para chega à Grécia e depois viajarem para a Europa Central.

Em suas conversas com o presidente Recep Tayyip Erdogan, em Istambul, Merkel deve equilibrar a necessidade da Europa para a cooperação da Turquia com as demandas de Ancara por dinheiro e perder condições europeias de visto. Ela também deve manter forte as preocupações da Europa sobre os direitos da minoria curda da Turquia e escalada de conflitos militares entre curdos e o exército da Turquia.

Karen Donfried, anteriormente na Casa Branca de Obama e agora presidente do Fundo Marshall Alemão, disse: "Este é o desafio mais significativo que a Alemanha tem enfrentado nos últimos anos."


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