Folha de S. Paulo


Após seis anos fora do país, opositor é preso ao chegar à Venezuela

Após seis anos em autoexílio para escapar de um processo por suposta corrupção, o líder antichavista e ex-candidato presidencial Manuel Rosales retornou na tarde desta quinta-feira à Venezuela, onde, como se esperava, foi preso ao desembarcar.

Ao anunciar seu regresso, há uma semana, Rosales disse que pretendia reforçar a oposição às vésperas da eleição parlamentar de 6 de dezembro, na qual o governo chega com baixa popularidade devido aos níveis alarmantes de inflação e desabastecimento.

Rosales chegou às 16h45 (18h15 no horário de Brasília) ao aeroporto de Maracaibo, capital do Estado de Zulia (oeste), que governou duas vezes. Ele desembarcou de um voo comercial proveniente de Aruba, onde passou os últimos dias.

Sua mulher, a prefeita de Maracaibo, Evelyn Trejo, o esperava, na remota expectativa de que não fosse preso, para levá-lo ao centro da cidade, onde havia multidão de simpatizantes. Mas agentes de inteligência cercaram o avião e levaram Rosales assim que saiu. Ele deve ser transferido ainda nesta quinta a Caracas.

A Procuradora Geral da República o considera foragido e, por isso, havia deixado claro que o prenderia imediatamente após pisar em solo venezuelano. O ex-governador e também ex-prefeito de Maracaibo é acusado de não justificar US$ 68 mil na sua declaração de patrimônio entre 2002 e 2004.

Manuel Rosales

Aliados veem motivações políticas e dizem que Rosales, líder e fundador do partido centrista Um Novo Tempo (UNT), paga o preço por ter enfrentado o então presidente Hugo Chávez, que governou a Venezuela de 1999 a 2013, quando morreu de câncer.

Rosales foi o segundo candidato mais votado na eleição presidencial de 2006, que manteve Chávez no cargo. No ano seguinte, o opositor fortaleceu-se politicamente ao orquestrar à vitoriosa campanha do "não" ao aumento de poderes de Chávez em um referendo.

Após a consulta popular, a Justiça acelerou o processo contra Rosales, que havia sido aberto três anos antes. Em 2008, Chávez chamou Rosales de "bandido desgraçado" e prometeu prendê-lo. O opositor fugiu no ano seguinte para o Peru, onde obteve asilo e passou a maior parte do tempo desde então.

Embora tenha se mantido discreto, continuou envolvido com o UNT, um dos partidos que compõem a coalizão opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática).

Prevalece entre cidadãos venezuelanos a impressão de que Rosales retornou à Venezuela para emular o também opositor Leopoldo López, cuja detenção, há mais de um ano e meio, o transformou no líder mais popular nas fileiras antichavistas.

López foi condenado no mês passado há 13 anos prisão por supostamente instigar os violentos protestos estudantis que incendiaram grandes cidades venezuelanas no início de 2014.


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