Folha de S. Paulo


EUA rechaçam críticas a distribuição de munição a rebeldes sírios

Depois de cancelar seu programa de treinamento de rebeldes sírios que lutam contra o Estado Islâmico (EI), as Forças Armadas dos EUA lançaram toneladas de munição para um novo grupo de combatentes. Ao mesmo tempo, os americanos levantaram barreiras à utilização do seu material militar para atacar o ditador sírio, Bashar al-Assad.

Um porta-voz da força-tarefa militar dos EUA disse na terça-feira que a eliminação de restrições aos alvos dos ataques era uma "questão discutível", uma vez que o lançamento das 50 toneladas de munição para a Coalizão Síria Árabe não aconteceu em uma área onde as forças do regime lutam ou pilotos russos sobrevoam.

Se antes as Forças Armadas dos EUA tinham de aprovar cada militante sírio que recebia auxílio dos EUA, agora o programa aprova apenas as lideranças de grupos rebeldes, o que aumenta a perspectiva de que armamentos norte-americanos poderiam migrar para a guerra civil síria como um todo. Essa, inclusive, havia sido a principal justificativa usada certa vez por Barack Obama para limitar a ajuda militar dos EUA a oposicionistas na Síria, antes de "fazer uma pausa" por tempo indefinido no esforço de construir uma força síria anti-Estado Islâmico.

Ammar Abdullah - 11.out.2015/Reuters
Rebel fighters carry their weapons as they take positions in the town of Kafr Nabudah, in Hama province, Syria, on which forces loyal to Syria's President Bashar al-Assad are carrying out offensives to take control of the town, October 11, 2015. The Syrian army backed by allied militia has advanced in western Syria after heavy Russian air strikes in areas around the main highway running through major cities, a group monitoring the war said on Sunday. REUTERS/Ammar Abdullah ORG XMIT: SYR05
Rebeldes empunham armas no interior da província de Hama, na Síria

A Casa Branca anunciou na sexta-feira que interromperia a iniciativa, que já durava um ano, de construir a força que se comprometeria a não usar armas e treinamento fornecidos pelos EUA contra Assad.

Legisladores disseram que a restrição contribuía para o número exíguo de combatentes sírios que o programa de US$ 500 milhões incentivava. Mas o coronel Stevel Warren, o porta-voz da operação, argumentou na terça-feira que era "muito cedo" para classificar o programa como um fracasso, alegando que a vasta maioria dos US$ 300 milhões que os EUA gastaram de fato, dos US$ 500 milhões totais, foi para armamentos que o país está enviando para seus novos e em sua grande maioria não treinados aliados sírios.

"Eles não estão em nenhum lugar que seja próximo das [posições das] forças do regime, eles estão especificamente perto do Estado Islâmico, que é o que nos interessa combater", Warren disse a repórteres na terça-feira.

"Então, enquanto essas forças..., nós pedimos a elas, queremos que elas combatam o EI. Não estou preparado para falar sobre requisitos, ou restrições, ou promessas, ou coisas desse tipo. O que vou dizer é que estamos procurando as forças que têm os mesmos objetivos que nós temos, que é a derrota e, em última instância, a destruição do Estado Islâmico."

Mas enquanto Warren disse que a força compreende "talvez cerca de 5.000" combatentes, os EUA apenas treinaram "algumas pessoas" nessas forças, antes de conduzir um lançamento aéreo, no fim de semana, de 50 toneladas de munição —munição de rifle e metralhadora, bem como granadas de mão, morteiros e ogivas de lança-granadas-foguete— para a Coalizão Síria Árabe. Pareceu uma manobra bastante distinta de um outro lançamento aéreo dos EUA, na segunda-feira, para combatentes curdos no nordeste da Síria.

"É difícil colocar uma restrição em uma bala, obviamente, mas nós fornecemos essa munição e esse equipamento para as forças que estão comprometidas com a luta contra o EI", reconheceu Warren.

ESPIÕES RUSSOS

Warren também sinalizou na terça-feira que os pilotos russos estão realizando operações de reconhecimento de drones dos EUA sobre a Síria e se mostro confiante de que as forças iraquianas em breve retomariam a cidade sunita de Ramadi das mãos do EI.

Os pilotos russos se aproximaram à "distância de reconhecimento visual" dos aviões dos EUA, disse Warren. Mas a grande maioria dos voos russos na área de aviões de guerra norte-americanos chegou perto de drones dos EUA, o que sugere que a Rússia está realizando reconhecimento das capacidades das aeronaves não tripuladas americanas.

"Os russos virão e, acho, vão querer dar uma olhada nos nossos UAVs [sigla para veículo aéreo não tripulado, em inglês]", disse Warren.

Warren disse que apenas uma "fração" dos cerca de 80 ataques que os EUA observaram conduzidos pela Rússia na Síria teve impacto sobre o EI, motivo declarado de Moscou para a sua intervenção no conflito, iniciada ha duas semanas. Ele disse que a grande maioria deles atingiu alvos em Homs e Hama, cidades onde o EI não tinha sido visto anteriormente.

"Nós vimos o EI progredir com base nos ataques aéreos russos", disse Warren.

Enquanto isso, no vizinho Iraque, Warren sinalizou que, depois de uma campanha paralisada neste verão, as forças iraquianas estavam se aproximando de uma operação para retomar Ramadi, que o EI capturou em maio.

"Nós gostaríamos de vê-los se movendo tão rapidamente quanto possível... Agora é a hora de um empurrão final em Ramadi", disse Warren. As forças dos EUA haviam previsto anteriormente uma invasão iraquiana da cidade, apoiada por bombardeios dos EUA, durante o verão no hemisfério norte, que terminou em setembro.

Warren disse que os iraquianos tinham "essencialmente cercado a cidade" em quatro pontos-chave de Ramadi, mas advertiu que um número estimado de 600 a mil combatentes do EI haviam começado a se preparar, cavando trincheiras, bermas e montando campos minados, a partir de bombas caseiras, para fortalecer suas posições.

Tradução de DENISE MOTA


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