Folha de S. Paulo


Sem excentricidade de Trump, debate democrata será desafio para CNN

Os debates presidenciais republicanos têm batido recordes de audiência ao apresentar um embate animado entre candidatos expressivos e bem conhecidos do público em uma disputa lotada de nomes e com uma celebridade combativa no centro do programa.

O desafio agora para a emissora CNN, anfitriã do primeiro confronto democrata, que será transmitido às 21h30 (horário de Brasília) desta terça-feira (13), é como manter os telespectadores interessados sem a expectativa de pirotecnia criada pelo magnata Donald Trump e seus rivais republicanos.

Não só os pré-candidatos democratas que vão subir ao palco do Wynn Las Vegas têm sido muito mais relutantes do que seus colegas republicanos em se atacar mutuamente, como três dos cinco –os que não são nem Hillary Clinton nem Bernie Sanders– mal aparecem nas pesquisas de intenção de voto.

Em entrevistas, os executivos e âncoras da CNN disseram que planejam aproveitar o menor número de pré-candidatos para forçar os democratas a explicarem melhor suas declarações anteriores e posições atuais –que são, por vezes, conflitantes–, mesmo que eles também incentivem o enfrentamento entre os democratas.

Jeff Zucker, presidente da CNN Worldwide, disse que, com menos pessoas no palco do que nos dois primeiros debates republicanos, "a abordagem será diferente".

"Você provavelmente verá mais questionamentos diretos de cada candidato", disse Zucker.

Ou como Anderson Cooper, apresentador do programa "Anderson Cooper 360" e moderador do debate, explicou: "Eu não acho que estes são candidatos que têm um histórico de realmente bater, como temos visto no lado republicano. E isso você tem de levar em conta."

E em um sinal de como o ritmo deste debate deve ser diferente do dos republicanos, a CNN dará aos democratas dois minutos no início da transmissão para se apresentarem– um holofote em horário nobre que não era logisticamente viável para o lotado debate republicano.

Cooper, que mede sua preparação para o debate não em número de perguntas, mas em pilhas de material de pesquisa –"tenho alguns centímetros de papel na minha mesa"–, disse que planeja usar a oportunidade para cobrar responsabilidade dos candidatos.

"Eu acredito que se alguém diz algo que é factualmente incorreto, é uma coisa boa apontar o que é realmente verdade", disse ele. "Se alguém está dizendo algo que não é o que ele já disse no passado, então você pode apontar isso."

De certa forma, quando os cinco democratas –Lincoln Chaffee, ex-governador de Rhode Island e ex-senador; Hillary Clinton, ex-primeira-dama, ex-senadora por Nova York e ex-secretária de Estado; Martin O'Malley, ex-governador de Maryland; Bernie Sanders, senador por Vermont; e Jim Webb, ex-senador pela Virgínia– subirem ao palco nesta terça, a CNN vai acolher, simultaneamente, um debate entre dois: Hillary e Sanders, que lideram nas pesquisas.

DUELO

Embora Sanders tenha evitado atacar Hillary pessoalmente, preferindo fazer contrastes implícitos entre as suas posições, esta será a primeira vez que os dois vão aparecer juntos, num duelo em potencial.

"Os principais candidatos, Hillary e Sanders, nunca estiveram frente a frente", disse Sam Feist, chefe da sucursal de Washington da CNN. "Será interessante vermos como eles lidam com isso, como é que eles respondem e o que eles fazem."

O debate também oferece a chance de um dos candidatos menos conhecidos ter um desempenho excepcional, similar à de Carly Fiorina, que nos dois primeiros debates republicanos acabou catapultando seu nome.

O desafio para a CNN é igualmente assustador. Os dois primeiros debates das primárias republicanas –um na Fox News, e outro na CNN– bateu recordes de audiência, atraindo, juntos, quase 50 milhões de espectadores.

Por outro lado, cerca de 8,3 milhões de pessoas assistiram ao debate democrata de maior audiência da história –a primeira vez que Hillary e Barack Obama se enfrentaram sem quaisquer outros candidatos no palco em 2008, na Califórnia.

A CNN informou que planeja destacar questões de interesse para os eleitores das primárias democratas, áreas em que os candidatos têm diferenças políticas claras e as preocupações dos eleitores latinos –tendo em vista que o debate será em Las Vegas, Nevada, Estado com elevada parcela de hispânicos.

Juan Carlos López, âncora da CNN em espanhol, e Dana Bash, chefe da cobertura política, estarão no palco com Cooper.

Os critérios da CNN permitem que o vice-presidente Joe Biden ainda participe do debate se ele anunciar sua candidatura até esta terça-feira, embora não seja esperado que isso aconteça.

Mas uma aparição de última hora certamente animaria o debate. Talvez, brincou Cooper, eles poderiam trazê-lo e um "holograma".

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O debate entre os pré-candidatos democratas à Presidência dos Estados Unidos será transmitido no Brasil pela CNN Internacional a partir das 21h (horário de Brasília). O programa será televisionado ao vivo em inglês e seu horário está sujeito a alteração.


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