Folha de S. Paulo


A duas semanas de eleição, Cristina Kirchner reforça aparições na TV

Cinco dias e três discursos transmitidos em rede nacional. Assim foi a semana televisiva da presidente Cristina Kirchner, que neste ano eleitoral já se pronunciou nada menos do que 44 vezes em cadeia nacional de rádio e TV.

A eleição presidencial na Argentina está marcada para o dia 25 de outubro, domingo.

Nesta sexta (9), Cristina inaugurou um pólo aquático em Río Gallegos, capital de Santa Cruz, província de onde vieram os Kirchner.

O release da Casa Rosada descreve assim o empreendimento presidencial: "Duas piscinas semiolímpicas, uma de aprendizagem, vestuários, banheiros para deficientes, consultórios médicos, solarium, bufê e uma arquibancada para 150 pessoas."

A motivação, segundo Cristina, é que todos os moradores da gelada Santa Cruz, no extremo sul do país, possam aprender a nadar.

Agustin Marcarian/Reuters
Cristina com Axel Kicillof, ministro da Economia argentino e candidato a deputado, em evento no dia 5
Cristina com Axel Kicillof, ministro da Economia argentino e candidato a deputado, em evento no dia 5

"Néstor [Kirchner, seu marido, morto em 2010] não sabia nadar. Ele não gostava que eu dissesse isso, mas a verdade é que só sabia nadar cachorrinho", revelou a presidente argentina em rede nacional.

As piscinas apresentadas pela presidente eram cobertas e muito provavelmente serão aquecidas.

Diante da esperada demanda pela infraestrutura pública, Cristina fez uma previsão realista: "São necessários pelo menos mais dois polos aquáticos desse tipo para que toda a população de Río Gallegos possa aprender a nadar".

Em seu discurso, Cristina esteve ao lado da ministra e candidata à governadora Alícia Kirchner, irmã de Néstor. Também foi filmado pela transmissão nacional o herdeiro, Máximo Kirchner, que concorre a uma vaga de deputado federal por Santa Cruz.

Os dois também apareceram na última segunda (5) na TV.

Na ocasião, a presidente, que estava na periferia de Buenos Aires, fez uma teleconferência com os parentes distantes ao sul.

Essas conferências são comuns nas redes nacionais de Cristina, que a imprensa local apelidou maldosamente de "Alô, presidenta". Nelas, Cristina pode mostrar mais de uma inauguração de obra pública em um mesmo pronunciamento.

Do outro lado, enfrentando o "delay" da conexão em vídeo via satélite, normalmente um ministro, um empresário e, sempre, um trabalhador contam à presidente –e aos espectadores– a maravilha da obra apresentada.

Na segunda, Alícia e Máximo apareceram ladeados pelo ministro dos Transportes, Florencio Randazzo. O motivo era informar que será reformada uma antiga linha de trem em Santa Cruz.

Não se trata de um desafio menor. A linha está parada desde 1978 e o último trem que circulou por ali virou atração em um museu na cidade de Puerto Deseado.

Imagens que rodavam enquanto o ministro discursava mostravam alguns (poucos) trabalhadores retirando o mato crescido no entorno dos dormentes da linha. Randazzo prometeu que a obra ficaria pronta em 90 dias. Circular trens? Nenhuma promessa.

DANCINHA

Passado o diálogo com Santa Cruz, Cristina discursou à nação.

Essa parte da transmissão presidencial interrompe a programação de TV e rádio de todo o país para que a mandatária dê seu recado.

Cristina falou de economia, de abutres –os credores que se recusaram a aceitar acordo depois da moratória argentina de 2001– e de dívida externa. Naquele dia, o Banco Central argentino anunciara um pagamento de US$ 5,9 bilhões em compromissos no exterior, uma sangria que foi comemorada pela presidente.

"Essa é a primeira vez que um governo emite uma série de bônus [de dívida] e esse mesmo governo paga, não deixa para o próximo", comemorou a presidente.

Seu candidato na eleição deste ano, Daniel Scioli, sentado ao lado, trocou risadas com a presidente. Ambos aparentavam bom humor, apesar de economistas estrangeiros e argentinos afirmarem que o sucessor de Cristina herdará a reserva de dólares quase vazia.

Reprodução
Reprodução de vídeo mostra Cristina dançando em evento com Daniel Scioli (esq.) e Axel Kicillof
Reprodução de vídeo mostra Cristina dançando em evento com Daniel Scioli (esq.) e Axel Kicillof

Mas foi a parte final, já fora da rede nacional, que mais sucesso obteve Cristina nesta semana.

Animada, ao som de rock argentino, Cristina dançou, saltitou e colocou os dedos indicadores para o alto. O V de vitória, que é símbolo de seu partido político, também foi arriscado pela presidente. Scioli ficou mais contido.

Ao fundo, a música embalava: "Poderão passar mil anos/ Verás muitos caírem/ Mas se nos juntamos/ Não vão nos deter", da banda Attaque 77.


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