Folha de S. Paulo


Brasil abrigou negociações entre guerrilha ELN e Colômbia, mas recuou

O governo brasileiro abrigou negociações secretas entre o governo colombiano e o grupo guerrilheiro Exército de Liberação Nacional (ELN) no ano passado, mas recuou devido ao acirramento da campanha presidencial.

A informação foi revelada à Folha por altas fontes ligadas ao processo de paz entre o governo colombiano e grupos guerrilheiros, que travaram guerra traumática a partir dos anos 1990.

Bogotá negocia há três anos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o que já resultou num pré-acordo histórico cujo desfecho está previsto para o primeiro semestre de 2016. Conversas com o ELN, porém, ainda não estão formalizadas.

Segundo as fontes, a Colômbia aceitou em 2013 mediação brasileira para contato preliminar com o ELN. O Equador também participava.

Em março de 2014, houve um primeiro encontro secreto em Manaus entre guerrilheiros e negociadores colombianos. Um segundo encontro, em junho daquele ano, se estendeu por semanas.

Durante a Copa do Mundo no Brasil, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, agradeceu publicamente ao Brasil "por seu papel e ajuda", mas não estava clara a natureza desse apoio.

O Mundial, porém, também marcou o momento em que o Brasil começou a se distanciar do processo.

"De repente, ninguém mais no governo brasileiro atendia nossos telefonemas. Deveríamos ter marcado vários outros encontros no Brasil, mas acabamos obrigados a fazer as coisas no Equador", disse uma fonte nas negociações.

Segundo essa fonte, o Brasil avisou, meses depois, de que encerrava sua participação no diálogo por recomendação de assessores da presidente Dilma. Eles temiam que o tema tivesse alto custo político no meio da agressiva corrida presidencial.

"Essa atitude do Brasil afetou o andamento do processo", disse a fonte.

Acompanhando a presidente Dilma Rousseff nesta sexta (9) em Bogotá, Marco Aurélio Garcia, assessor especial do Planalto, confirmou que o Brasil recebeu encontros de delegações, mas negou que o governo tenha recuado. "Conversamos até o ponto em que nossa ajuda não era mais necessária", disse à Folha.

MORTOS NA GUERRA

O ELN foi fundado por guerrilheiros marxistas nos anos 1960, com o propósito de combater as injustiças sociais. O grupo tornou-se um dos protagonistas da guerra interna na Colômbia, que deixou mais de 230 mil mortos.

Com a desmobilização dos paramilitares, milícias antiguerrilha, a partir de 2003, e o enfraquecimento de grupos como Farc e ELN, o conflito vem perdendo intensidade.

Nesta sexta, a presidente Dilma elogiou Juan Manuel Santos pela "corajosa decisão de implementar um processo de paz com as Farc".

"O êxito da negociação transcende as fronteiras da Colômbia e da região. É um exemplo para o mundo, onde há impotência para estabelecer acordos de paz", disse Dilma, após reunião com o colega colombiano no palácio presidencial de Bogotá.

Os dois presidentes anunciaram que, em caso de acordo com as Farc, a delegação colombiana na Olimpíada de 2016 no Rio chegará com uma "tocha olímpica da paz".


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