Folha de S. Paulo


Afegãos solicitaram ataque em Kunduz que atingiu hospital, diz general

O ataque aéreo que matou 22 pessoas em um hospital gerido pela ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) no norte do Afeganistão havia sido solicitado pelas forças afegãs, afirmou o comandante da missão americana no país.

O general John F. Campbell, chefe das forças americanas e da coalizão contra o Taleban, falou em uma conferência com jornalistas montada às pressas no Pentágono nesta segunda-feira (5). Ele afirmou estar corrigindo um comunicado inicial.

"Nós tomamos conhecimento agora de que, em 3 de outubro, forças afegãs nos informaram que estavam sob fogo de posições inimigas e pediram apoio de forças dos EUA", disse Campbell, sobre a operação em Kunduz.

"Um ataque aéreo foi então requisitado para eliminar a ameaça Taleban e diversos civis foram acertados acidentalmente. Esta [versão] é diferente dos relatos iniciais que indicavam que forças dos EUA foram ameaçadas e que o ataque aéreo foi solicitado a pedido destes", afirmou o general.

A revisão do comunicado não esclarece se o hospital onde a Médicos Sem Fronteiras trabalha foi identificado erroneamente como alvo ou se outros erros foram cometidos pelos americanos.

"Se erros foram cometidos, nós vamos admiti-los", disse Campbell.

O general se recusou a fornecer mais detalhes sobre o ocorrido, afirmando que uma investigação militar está em curso.

Campbell, cujo centro de operações está alocado em Cabul, se encontrava em Washington nesta segunda-feira para prestar depoimento a duas comissões do Congresso ao longo da semana.

'EUA LANÇARAM AS BOMBAS'

Depois das declarações do general, o diretor-geral da MSF, Christopher Stokes, divulgou nova nota criticando a ação dos EUA.

"Hoje, o governo americano admitiu que partiu deles o bombardeio que atingiu nosso hospital em Kunduz e matou 22 pacientes e profissionais da MSF. A descrição dos ataques fica se alterando –de dano colateral para incidente trágico. Agora, há a tentativa de repassar a responsabilidade ao governo afegão", afirma o comunicado.

"A realidade é que os EUA lançaram aquelas bombas. Os EUA atingiram um hospital enorme, cheio de pacientes feridos e profissionais da MSF. As forças militares americanas continuam responsáveis pelos alvos que atingem, ainda que sejam parte de uma coalizão. Não há justificativas para esse ataque terrível", prossegue Stokes.

O diretor-geral da ONG acrescentou que, com as discrepâncias nas versões oferecidas pelos governos americano e afegão, é ainda mais necessária "uma investigação transparente e independente".

LOJAS REABERTAS

Além dos 22 mortos —12 funcionários e sete pacientes, três dos quais crianças—, o ataque em Kunduz deixou ao menos 37 feridos. De acordo com a MSF, cem pessoas estavam no prédio durante o bombardeio.

Nesta segunda, moradores e policiais de Kunduz afirmaram que a coalizão já havia recuperado boa parte da cidade, que havia caído sob domínio do Taleban na semana anterior.

Soldados estavam conduzindo revistas de porta a porta nas casas e nos prédios para eliminar todos os bolsões de resistência contra Cabul. Algumas lojas reabriram, e residentes afirmaram que, pela primeira vez em oito dias, não ouviram o som de disparos e saíram às ruas para comprar mantimentos.

Kunduz é uma capital de província com 300 mil habitantes em uma região estratégica do país. A tomada da cidade pelo Taleban foi considerada uma das maiores conquistas da milícia em mais de uma década.

Assista

RESPOSTAS

Na noite de sábado, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse ter pedido ao Departamento de Defesa que o informe sobre toda a investigação e que só se pronunciaria após o resultado. Ele prestou condolências às famílias das vítimas.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, manifestou "profunda tristeza" com as mortes.

Em comunicado no próprio dia do bombardeio, a ONG cobrou respostas para o ocorrido. "A MSF demanda uma explicação total e transparente da coalizão sobre suas atividades em Kunduz na manhã deste sábado", disse a organização.

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