Folha de S. Paulo


Parlamento da Rússia autoriza o uso da Força Aérea na Síria

O Parlamento russo aprovou por unanimidade nesta quarta-feira (30), a pedido do presidente Vladimir Putin, que o país atue com sua Força Aérea na Síria. Logo após a aprovação, a Rússia iniciou uma ofensiva aérea no país.

A Rússia tem aumentado sua presença militar na Síria, onde apoia o regime do ditador Bashar Al-Assad no contexto de uma guerra civil que envolve rebeldes apoiados pelo Ocidente e grupos radicais como a facção Estado Islâmico (EI).

Mike Segar-28.set.2015/Reuters
Russian President Vladimir Putin addresses attendees during the 70th session of the United Nations General Assembly at the U.N. Headquarters in New York, September 28, 2015. REUTERS/Mike Segar ORG XMIT: HRB110
O presidente russo, Vladimir Putin, discursa na abertura da Assembleia-Geral da ONU

O chefe de gabinete do Kremlin, Sergei Ivanov, disse, após a votação no Conselho da Federação, a câmara alta do Parlamento, que Assad havia "pedido ajuda militar à liderança da Rússia".

Ivanov também afirmou que a ação se refere somente ao uso da Força Aérea, não havendo permissão para uma intervenção por terra. Entretanto, não está claro se a aprovação do Parlamento pode ser usada no futuro para justificar uma operação terrestre.

"O alvo militar da operação é o apoio aéreo às forças governamentais sírias em sua luta contra o EI", disse.

A Constituição russa estabelece que qualquer operação militar no exterior deve ser aprovada pelo Legislativo. Esse mecanismo foi acionado pela última vez antes de a Rússia anexar a península da Crimeia, em março de 2014.

A presidente do Conselho da Federação, Valentina Matvienko, disse em uma coletiva que a decisão reflete a crescente participação da Rússia em assuntos internacionais.

"Na condição de grande potência, nós devemos participar em combater esse grande mal", disse Matvienko, referindo-se ao EI.

Ela acrescentou que a União Soviética havia assinado um acordo de cooperação com a Síria em 1980 segundo o qual Moscou deve ajudar Damasco quando requisitado. "Nós não podíamos rejeitar Assad e continuar vendo a morte de pessoas, mulheres e crianças."

O Kremlin justifica sua ofensiva sobre radicais na Síria para evitar que grupos terroristas ganhem força a ponto de agir em território russo.

O gabinete de Assad emitiu um comunicado em que acolhe a decisão da Rússia de intervir na Síria. O texto também confirma que a ajuda militar foi oferecida após um pedido de Damasco.

PRESSÕES

O governo russo tem se tornado alvo de pressões crescentes para explicar suas movimentações militares na Síria. Foi descoberto recentemente que o Kremlin estaria construindo uma base aérea operacional ao sul da cidade síria de Latakia.

PRESENÇA RUSSAOnde estão os militares do país na Síria

O apoio da Rússia ao regime sírio é duramente criticado pelo Ocidente. Em seu discurso na abertura da Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o presidente americano, Barack Obama, defendeu a deposição de Assad, quem chamou de "tirano".

Por sua vez, ao se pronunciar no mesmo espaço, Putin disse ser um erro não oferecer suporte militar ao regime de Assad para combater o EI.

Tanto Putin quanto seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, asseguraram que qualquer intervenção militar, seja na Síria ou em outro país, necessita de uma autorização do Conselho de Segurança da ONU para garantir sua legitimidade conforme a legislação internacional.

Convocado pela Rússia, o principal órgão executivo da ONU se reúne nesta quarta em Nova York. Na reunião, Moscou deve apresentar seu projeto de resolução sobre a necessidade de coordenar as ações contra o EI e outros grupos radicais.


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