Folha de S. Paulo


Presidente da Câmara renuncia nos EUA após pressão de conservadores

Sob intensa pressão da ala mais conservadora de seu partido, o presidente da Câmara dos Representantes (deputados) dos EUA, o republicano John Boehner, anunciou nesta sexta (25) que deixará o posto e sua cadeira no Congresso no fim de outubro.

A decisão repentina, anunciada num encontro fechado com correligionários na Câmara, ocorre depois de conservadores se movimentarem para exigir sua saída.

Bill Clark/AFP
O presidente da Câmara dos EUA, John Boehner, cumprimenta o papa Francisco nesta quinta-feira (24)
O presidente da Câmara dos EUA, John Boehner, cumprimenta o papa Francisco nesta quinta-feira (24)

Boehner, 65, congressista do Estado de Ohio e eleito para a Câmara pela primeira vez em 1990, vinha sendo pressionado pelo partido para fazer uma oposição mais dura ao governo de Barack Obama.

Um dos últimos capítulos de sua disputa com a ala conservadora foi a tentativa de buscar uma solução para que o Orçamento da União seja aprovado antes do congelamento das verbas para o governo, como ocorreu em 2013.

Boehner foi duramente criticado por defender a aprovação do Orçamento sem suspender verbas para a ONG Planned Parenthood, que presta assistência ao planejamento familiar e realiza abortos nos Estados onde a prática é permitida.

Agora, o caminho estaria aberto para a aprovação do texto, já que o republicano não se sente mais ameaçado pela oposição interna.

"Nesta manhã acordei, rezei como sempre e decidi: hoje é o dia. É minha opinião que uma confusão alongada na liderança provocaria danos irreparáveis na instituição. Por isso, renunciarei à Presidência e à minha cadeira no Congresso em 30 de outubro", disse Boehner, que era o terceiro na linha de sucessão presidencial desde janeiro de 2011.

VISITA DO PAPA

Segundo a CNN, o republicano teria dito aos colegas que a visita do papa Francisco ao Congresso, no dia anterior, selou sua decisão. Boehner é católico e se emocionou com o discurso do pontífice.

O favorito para sucedê-lo no posto é o líder da maioria republicana, o californiano Kevin McCarthy. Embora não tenha anunciado sua candidatura, ele disse que o momento é de recuperação.

"Agora é o momento de priorizar a recuperação e a unificação para enfrentar os desafios à frente, e sempre fazer o que é o melhor para a população americana."

Ultraconservadores comemoraram a saída de Boehner. "Era uma decisão inevitável. O presidente da Câmara subverteu nossa república", disse o deputado Tom Massie.

A guinada à direita ocorre no momento em que o empresário Donald Trump, ultraconservador, lidera as pesquisas entre os republicanos para as eleições que definirão o candidato do partido à Casa Branca em 2016.

Obama classificou Boehner como "um homem bom, um patriota". "É uma pessoa que entendeu que não se pode ter 100% do que alguém quer todo o tempo, que é necessário trabalhar com as pessoas que discordamos."


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